O tempora! O mores! (2)

No Reino Celestial, 318 anos depois de empossados, os sete primeiros vereadores da Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais voltaram a se reunir em sessão extraordinária para deliberar sobre o passado, o presente e o futuro da Câmara Municipal de Curitiba.

Antônio da Costa Veloso, presidente da legislatura celestial, abriu os trabalhos pedindo um minuto de silêncio em desagravo aos nefastos acontecimentos que ora atormentam os nobres colegas do Palácio Rio Branco. Em seguida, passou a palavra para Garcia Rodrigues Velho que, citando Cícero – O tempora! O mores! -, por sua vez concedeu um aparte a Antônio dos Reis Cavaleiro.

 Também citando o pensador romano, Cavaleiro lamentou os maus costumes com o bem público – Ó tempos, ó costumes! Onde esconderam-se os brios? -, pois não é de hoje que aquele sodalício precisa se fazer respeitar.       

–  Vejam os senhores que a questão dos chiqueiros se arrasta desde 1748 e não foi resolvida, pois em 1770 os curitibanos ainda teimavam em criar porcos pelas ruas.

E continuou o intimorato Cavaleiro:

– A postura em relação aos que que chafurdam na lama, já foi aprovada nesta casa de leis. Entretanto, nem a criação de porcos nas ruas nem a ação dos vereadores contra esses animais foi encerrada. Os próprios chefes de polícia e os alcaides (antigos oficiais de justiça) da vila não se preocuparam em fazer valer a determinação legal.

– Quero lembrar aos nobres colegas que tal insubordinação gerou então uma grave crise entre diversos oficiais desta Câmara. Em 1770, lembro ainda, por conta desse animais o procurador do Conselho requereu aos vereadores a prisão do alcaide e do porteito por omissão no cumprimento de suas atribuições.

O vereador e escrivão João Rodrigues Seixas pede a palavra:

– Se permite, senhor presidente, faço a leitura de trechos da ordem de prisão: ” Requereu o Procurador deste conselho a eles oficiais que sendo determinado por esta Câmara que se matassem os porcos que andassem nesta vila e cachorros bravos e daninhos por queixas que tinham ouvido os donos dos porcos e distúrbio e malfeitorias dos cachorros (…) e como nem os moradores desta vila nem os oficiais têm satisfeito a sua obrigação (…) requeria a eles ditos oficiais da Câmara fossem servidos mandarem prender os ditos Alcaide e Porteiro pelo pouco caso que fizeram do que lhes foi mandado”.

– Devemos lembrar ainda que além de prenderem os responsáveis pelo mau cheiro da cidade, a Câmara também levou à cadeia alguns moradores por incúria na conservação de seus imóveis. Assim, periodicamente, no cumprimento de suas funções os vereadores ordenavam uma correição geral na vila.  

– O tempora! O mores! E está encerrada a presente sessão.