O tempora! O mores! (1)

Aos vinte e nove dias do mês de março de 1693, nesta igreja de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais se juntou o povo dessa vila para pedir justiça ao Capitão e com isso evitar os muitos desaforos que aqui se faziam. Vendo o capitão que era justo o que lhe pediam, respondeu que nomeassem seis homens de sã consciência para a eleição da Câmara e instalação da Vila. Tendo como testemunhas cidadãos dos mais graúdos, os quais debaixo do juramento que lhes foi dado pelo reverendo padre vigário desta vila, Antônio de Alvarenga, nomearam a primeira legislatura da Câmara Municipal de Curitiba: Antônio da Costa Veloso (juiz); Manoel Soares (juiz); Garcia Rodrigues Velho (vereador); capitão José Pereira Quevedo (vereador); Antônio dos Reis Cavaleiro (vereador); capitão Aleixo Leme Cabral (procurador); e João Rodrigues Seixas (escrivão).

318 anos depois da posse, no Reino Celestial, os sete primeiros vereadores da Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais voltaram a se reunir em sessão extraordinária para deliberar sobre o passado, o presente e o futuro da Câmara Municipal de Curitiba.

Ao lado do escrivão João Rodrigues Seixas, o juiz Antônio da Costa Veloso, presidente da legislatura celestial, abriu os trabalhos pedindo um minuto de silêncio em desagravo aos nefastos acontecimentos que ora atormentam os nobres colegas do Palácio Rio Branco. Em seguida, passou a palavra para o orador Garcia Rodrigues Velho.

– O tempora! O mores! Nem Cícero acreditaria que apenas três séculos depois teríamos que voltar à liça para deliberarmos sobre a grave conjuntura ética e moral em que se debate a nossa Câmara Municipal de Curitiba. Ó tempos, ó costumes! Parece que foi ontem que os camaristas de 1748 procuravam reunir os homens bons da vila para deliberarem justamente o “exterminar-se desta vila os porcos e fazer-se sobre eles posturas e acordão para que quem os tivesse os pusesse fora desta vila ou os enchiqueirasse de sorte que nunca mais tornassem a andar soltos pela vila em grande prejuízo e dano que faziam arrombar os quintais e ainda as paredes das casas desta vila de que os moradores que nela tem casas têm experimentado grandes danos tanto nas ditas casas e quintais como nas roças vizinhas”. 

– Peço a palavra, senhor presidente! – pediu o vereador Antônio dos Reis Cavaleiro.

– Seja breve, nobre colega.

– Ó tempos, ó costumes! Onde esconderam-se os brios? Assim como nos tempos de Cícero, os tempos continuam os mesmos. Vejam os senhores que essa questão dos chiqueiros não foi resolvida, pois em 1770 os curitibanos ainda teimavam em criar porcos pelas ruas.

– Nosso tempo esgotou-se, vereador Reis Cavaleiro! Voltaremos na sessão de amanhã.