Símbolo da Fundação Cultural de Curitiba, o Teatro do Paiol é muito mais: é um dos ícones da moderna Curitiba. Ponto de partida das transformações culturais de Curitiba, seu papel na reciclagem da cidade será rememorado na noite de amanhã, com a participação de Jaime Lerner e demais personagens daquele pequeno grande teatro.

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Certa vez o cantor Taiguara, durante os ensaios do show que faria, olhou para cima e ficou encantado com o desenho do telhado. Foi se abaixando e acabou se deitando no chão, e disse que, se pudesse, faria o show deitado, olhando para aquela maravilha.

Uma maravilha por dentro e por fora, fica mais bonito ainda quando visto 37 anos depois, observando o que ele representou para Curitiba. E não apenas no aspecto cultural. No plano urbanístico, o Teatro do Paiol foi o símbolo do porvir. Junto com a Rua das Flores, foram as duas provas concretas de que a cidade estava para virar muito rapidamente algumas páginas de sua história.

A “Hora da Prosa”, série de encontros da Diretoria de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural de Curitiba, vai iluminar os 37 anos de história do Teatro do Paiol com memórias de raro brilho no palco: Jaime Lerner, Paulo Vítola, Lúcia Camargo, Yara Sarmento, Silvio de Tarso, João Egashira e Luci Daros. Na platéia, por certo, estarão presentes muitos dos outros personagens que lá já estiveram, inclusive, se maquiando nos camarins. O encontro com a memória vai começar às 20h. Contudo, somando a bagagem daqueles do palco e da platéia, 24 horas de conversa seria pouco. De tanto que temos para contar do Teatro do Paiol, incluindo aí alguns dos bons momentos de nossas vidas.

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Quem tem muito para contar é o publicitário, escritor e compositor Paulo Vítola, que, junto com Adherbal Fortes de Sá Júnior, criou no início do Paiol a peça “Cidade sem Portas”, um dos maiores sucessos da história do teatro paranaense. Se Paulinho Vítola vai contar dos sucessos, e ainda do que representou o Movimento de Atuação Paiol (Mapa) na cena musical, o músico Celso Renato Loch, o Celso Pirata, vai lembrar da hora do recreio no Bar do China. Sobre o bar de Armando (China) Rodrigues, grande percussionista do Grupo Ogum, um dos freqüentadores deixou um registro no belo Boletim da Casa Romário Martins, “Teatro do Paiol: 35 anos de aplausos”, que também será lançado amanhã: “A gente chegava e, invariavelmente, ia para o Bar do China, se reunia, tomava uma cervejinha e encontrava os músicos. Daí chegava o Paulo Leminski com suas loucuras tradicionais, suas grandes sacadas”.

Por motivo de uma inadiável viagem, infelizmente o arquiteto Abrão Assad, que projetou o Teatro do Paiol, não estará presente na “Hora da Prosa” de amanhã. Se não de viva voz, pelo menos no Boletim n.º 137 da Casa Romário Martins, ele conta de uma peça de Manoel Carlos Karam, onde no próprio teatro que desenhou fez o cenário. “Céu da Boca” foi a primeira experiência teatral de Abrão Assad. Embora pequeno, nessa montagem o Teatro do Paiol mostrou sua especial funcionalidade. Assad conta: “Esse cenário surgia do praticável. Era uma história de personagens que roubam o vestiário de um teatro e passam a representar as figuras às quais remetem as roupas que estão vestindo. Em um determinado momento, um deles oferece chicletes para o outro, que pergunta: Vamos plantar chicletes?”

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Os chicletes, então, nasciam a olhos vistos, sem blecaute: “Pés de chicletes de 12 metros de altura, todo flexível. Ao nascer, eles dançavam e formavam anéis de um tecido furta-cor que consegui; os pés de chicletes dançavam porque nós puxávamos com fiozinho invisível, juntamente com os dois artistas que encenavam a peça”.

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Eu fui um dos atores que plantavam pés de chiclete. Se Manoel Carlos Karam estivesse vivo, teria muitas histórias para contar do Paiol. Como ex-ator, diretor e cenógrafo, eu tenho ainda outras tantas guardadas no coração.