O sorriso da Gioconda

Todos conhecem o sorriso do Papai Noel, porém poucos conhecem o casmurro que existe nele quando precisa renovar o guarda-roupa. Não tem cueca, calça ou camisa que caiba no coitado.

– Tem tamanho gigantão? – pergunta Noel, ao tentar a troca.

– Sinto muito, só trabalhamos com tamanho gigante e gigantinho!

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Jeanine Lepca Campelli é professora, tradutora de italiano e feliz proprietária da loja Gioconda, tamanhos especiais, na Rua Conselheiro Laurindo. Ela sabe o quanto sofre Papai Noel para comprar roupa nova e lembra muito bem que nunca foi fácil ser gorda, gordinha ou fofa em Curitiba: “Quando se encontrava alguma roupa maior nas lojas, era vestidão preto, marinho ou marrom. Preto feio, marinho feio, marrom feio, se é que dá pra imaginar isso”.

A única alternativa eram os estampados bem coloridos, que nem mesmo ao lado do Jô Soares alguém usaria de cabeça erguida. Outra opção menos constrangedora, segundo Jeanine, eram as calças compridas de tecido fino ou de malha grossa. Mas com o que ia em cima, blusas, camisas ou túnicas, o desastre se repetia.  

Jeanine (que usava o compreensível tamanho 48) já tinha desistido de se vestir com roupas de loja, porque tinha cansado da cara das mocinhas que a olhavam com pena ou desprezo e diziam: “Para o seu tamanho não vai ter”.  

O mundo parecia feito de chocolate e desprezo, até abrir a Modelar Bigger Size no começo da Vicente Machado. A iniciativa arrojada do grupo Modelar tinha figurinos e provadores espaçosos, com janelas cor-de-rosa para o mundo, na visão de Jeanine: “Tenho certeza que alguém compreende exatamente como me senti, quando levei para o provador umas quinze ou vinte peças, entre blusas, calças e vestidos, todos lindos”. A sensação seguinte foi de euforia, quando a incrédula disse para a vendedora:

– Ficou grande!!! Tem menor???

A filha do grande jornalista Laerzio Campelli saiu do paraíso com braçadas de roupas e um sorriso bem maior do que aquele de Leonardo da Vinci, o da Gioconda. Começando uma confortável fase em sua vida, foi então que ela começou a imaginar: “Um dia ainda vou ter uma loja de roupas lindas de tamanho grande”.

Jeanine Lepca Campello não é gorda. É plena. Plena de humor, de saber e recebe todos com o sorriso da Gioconda.