O sonho não acabou

Depois de sete anos fechado para reformas, o Centro Cultural do Portão – agora Museu Municipal de Arte (MuMA) – deve sua existência a muitas pessoas, pois como se sabe nove entre dez curitibanos são urbanistas e, quem não é adora dar seus os seus palpites na cidade. Um desses palpiteiros é a produtora cultural Gisele Mendes, há muitos anos morando em São Paulo.

Quando aquilo era um estorvo e ninguém sabia o que fazer com quase 5 mil metros quadrados entregues às moscas, Gisele foi à luta e, com o filho no colo, iniciou um movimento para dar ao Portão um espaço digno daquela cidade dentro da cidade. O relato é da própria Gisele:       

“Hoje reinaugura em Curitiba o Centro Cultural Portão, agora chamado Portão Cultural. Fiquei feliz ao saber. Mais feliz ainda, porque posso dizer que tive uma participação, diria anárquica, na sua criação. Feliz também, por dividir aqui essa história com meus amigos. No final de 1982 para 83, o local não passava de um elefante branco abandonado, já em fase de negociação de venda para uma rede de supermercado. Na época, ideais e vontade de agitar não me faltavam. Afrontar o poder capitalista em nome da cultura, então, era um sonho divino. Resolvi ir à luta.

Colocava meu filho Rudah no colo, desarmava o carrinho de bebê, pegava o expressão e ia pro Portão passar as tardes, mapeando o local, entrevistando moradores. Levei até lá meus amigos Ivan Rodriguez e João Henrique Le Senechal para fotografar. Preparei um documento, um misto de matéria e relatório, e fui para a Câmara Municipal. Minha mãe era então advogada e assessora parlamentar da casa. Pedi a ela para agendar uma reunião com o vereador Algaci Túlio. Eu só queria que a obra do supermercado fosse embargada, sugerindo que ali fosse criado um espaço cultural para a comunidade. O vereador topou comprar a briga e conseguiu embargar a obra. Algum tempo depois, já morando em Florianópolis, soube que tinham aprovado o projeto de lei transformando o local num centro cultural (…) Como curitibana da gema que ama muito sua cidade, mesmo de longe, posso dizer que, talvez, num tempo já distante, um simples ato de rebeldia tenha sido a única coisa relevante que ajudei a fazer por Curitiba. Na verdade, dei apenas um ponta pé inicial, mas me orgulho muito de ter levado em frente esse sonho e vê-lo realizado”.