O sonho de Petraglia (2)

Ao propor a criação de um único estádio para Atlético e Coritiba, Mário Celso Petraglia sonha com uma arena que já nasceu vermelha, preta, verde e branca. Cores que passaram pelo PAVOC, projeto dos visionários Aryon e Lolô Cornelsen que ficou nas linhas tortas por onde passam a política e o esporte paranaenses.

Dos três irmãos Cornelsen (Alcyr, Aryon e Airton), Aryon sempre permaneceu ligado ao futebol, ao mesmo tempo em que mantinha famoso escritório de advocacia na cidade, fazendo “de tudo um pouco” no Alto da Glória. Quando chegou à presidência do Coritiba, em 1958, deu início ao plano de construção do novo estádio alviverde. Anos mais tarde, procurando viabilizar a onerosa obra, criou uma espécie de loteria privada. Chamada de Cori-Ação, causou furor em todo o Estado. Funcionava no clássico esquema dos bingos, com sorteios auditados e transmitidos pelo rádio, e pagava prêmios vultosos. A loteria foi o canal para a transformação do acanhado Estádio Belfort Duarte no “gigante de concreto armado” do Alto da Glória.

No ano de 1963, o patriarca Emilio Cornelsen faleceu, deixando a área em São José dos Pinhais de herança aos filhos. O empreendedor Aryon comprou a parte dos irmãos e alguns lotes vizinhos. No final do ano era proprietário de uma área de 400 mil metros quadrados.

Um ano depois, solicitou a seu irmão Airton, o “Lolô”, o projeto da primeira Vila Olímpica brasileira em forma de clube social. Lolô Cornelsen, desgarrado dos coxas, foi ser campeão de 1945 pelo ex-rival Atlético, enquanto arrebanhava fama internacional como arquiteto e urbanista.

O complexo seria construído no terreno de 16 alqueires em São José e, pela ideia de seu criador, faria parte da estrutura esportiva do Coritiba Football Club. A vila comportaria cinco campos de futebol. Um deles, com grama importada do Uruguai e drenagem, serviria para treinamentos dos profissionais, com duas arquibancadas em volta do gramado, uma pista de atletismo e caixas para salto. Tudo de acordo com as normas exigidas pelo comitê do esporte olímpico.

Canchas de basquete, “stand” para tiro ao alvo, arco e flecha, futebol de salão, vôlei, tênis, minigolfe, entre outros esportes, complementariam o conjunto da Vila Olímpica.

Um dos objetivos do projeto era fazer com que o parque esportivo se tornasse autossustentável com a construção de um hotel de categoria internacional (60 apartamentos de luxo e 50 suítes). Posteriormente, novos desejos foram incrementados ao projeto: a construção de um restaurante de 70 metros de altura, tendo um piso giratório e um cinema ao ar livre para 1.300 espectadores.

A partir de 1966, o PAVOC (Parque Aquático Vila Olímpica Cornelsen) se tornou uma referência curitibana. Muito por conta da ousadia do projeto arquitetônico de Lolô, que entre outras realizações é responsável pelo autódromo do Estoril, em Portugal.

Esta era a Vila Olímpica que tanto impressionou João Saldanha em setembro de 1987. Um pouco mais de dez anos atrás ela havia mudado de mãos, passando do mais abnegado realizador coritibano ao patrimônio do arquirrival Atlético Paranaense numa ação rocambolesca, digna da eterna “guerra fria” entre coxas e atleticanos.

Aryon Cornelsen conta que “fez de tudo” para que o Coritiba recebesse o Clube Olímpico, chegando até a planejar a venda dos carnês e das cotas para associados. De seu apartamento no Alto da Glória, repleto de fotos dos tempos gloriosos, relembrou para o repórter Sandro Moser, com um misto de saudade e mágoa, aquela situação:

– Eram 100 metros na Avenida das Torres. Ofereci ao Coritiba 20.000 metros quadrados de graça, mais as mensalidades dos sócios e todo o parque construído, em troca da venda dos 50 mil primeiros títulos patrimoniais.

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No próximo capítulo, por que Aryon Cornelsen requereu insolvência, perdeu o patrimônio e foi expulso do Conselho do Coritiba.