O sonho de Petraglia (1)

Mário Celso Petraglia não necessita de 15 minutos de fama, extrapolou em muito os poucos minutos concedido por Andy Warhol aos comuns mortais. Ainda sim, chamou para si as manchetes, ao propor a criação de um único estádio para Atlético e Coritiba, justamente no moderno estádio que nasceu de um patrimônio comum a rubronegros e alviverdes.

O sonho de Mário Celso Petraglia tem quatro cores (vermelho, preto, verde e branco) e nasceu de um outro sonho da visionária família Cornelsen que virou pesadelo: o PAVOC, a alavanca que ergueu a Arena e impulsionou o Atlético na vanguarda do cenário brasileiro. Mesmo que pelas linhas tortas por onde passam a política e o esporte paranaenses.

Em parceria com o jornalista Sandro Moser (autor da reportagem nunca publicada), vamos contar neste modesto espaço o sonho do empresário Aryon Cornelsen, o pesadelo de nome de PAVOC (Parque Aquático Vila Olímpica Cornelsen).
É um Atletiba familiar, que teve seu início com a profecia do jornalista e ex-técnico da seleção brasileira João Saldanha:

– O Atlético, facilmente, está entre os 10 mais.

Na profecia escrita no Jornal do Brasil em setembro de 1987, Saldanha admitia com algum orgulho que o Atlético fora o primeiro time de seu coração. A família Saldanha escolheu a calma Curitiba para se refugiar nos conturbados anos 20. O pai de João foi um dos mais importantes quadros maragatos da revolução federalista e, perseguido, saiu com a família pelo país.

Por ter morado menino na região conhecida como “baixada da água verde”, Saldanha deve ter lembrado destes tempos ao arriscar o destemido vaticínio.

Tamanho otimismo se justificava. O cronista, “Cavalheiro da Boca Maldita”, fora recebido no aeroporto em uma manhã ensolarada de primavera com todas as honras por um comitê de cavaleiros atleticanos. O motivo da viagem era uma visita à recém-inaugurada nova sede social do Clube Atlético Paranaense. Uma sede completa, com campos de treino, piscinas e tudo o que mandava o figurino.

Desde o final da 2.ª Guerra Mundial quem vem de avião a Curitiba desembarca no Aeroporto Afonso Pena. Curiosamente, a antiga estrada que conduzia ao campo de aviação de São José (onde se localizava a tal nova sede do atlético), Saldanha conhecia bem, pois também morara naquela região. A área pertencente ao atual aeroporto se constitui, em parte, de terrenos da Colônia Afonso Pena, ali implantada no início do século XX em homenagem ao sexto Presidente da República. Nessa ocasião, o governo federal desapropriou a área de uma fazenda, e dividiu-a em pequenas chácaras e ali assentou uma colônia de imigrantes.

Entre as inúmeras famílias beneficiadas estava a família Cornelsen. O avô Amaro, primeiro do clã a chegar ao Brasil já possuía um armazém de “secos e molhados” no centro de Curitiba (na região da atual Praça Osório). Ao seu filho Emilio coube o recebimento da escritura do lote destinado aos Cornelsen na beira do Rio Iguaçu.

Acontece que Emilio não teve pressa em ocupar o novo terreno e lá plantar mandioca, batata-doce e criar galinhas como a maioria de seus vizinhos. Foi mais forte a paixão pelo Coritiba Footbal Club, a camisa dos jovens imigrantes europeus. No Coritiba ele foi jogador, técnico e depois dirigente. E fez questão que os três filhos homens de sua prole ali se iniciassem no futebol.

Alcyr e Aryon, os dois mais velhos, jogaram e foram campeões no Coritiba Foot Ball Club. Alcyr pendurou as chuteiras ao abraçar a carreira de médico e passou a ser apenas um torcedor. Já Aryon permaneceu sempre ligado ao futebol, ao mesmo tempo em que mantinha famoso escritório de advocacia na cidade, fazendo “de tudo um pouco” no Clube até chegar a presidência em 1958. Terceiro irmão, o arquiteto Airton (Lolô) se desgarrou por conta de uma briga com o major Couto Pereira num baile de Carnaval.

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No próximo capítulo, o que foi feito da herança no caminho aeroporto. O sonho e a saga de Aryon Cornelsen.