Em agosto de 2003, o cineasta Francis Ford Coppola passou duas semanas em Curitiba, o suficiente para entrar no folclore da Boca Maldita com o apelido de Bala Zequinha: apareceram fotos de Coppola bebendo gengibirra Cini, Coppola lendo a Tribuna do Paraná, Coppola comendo paçoquinha, Coppola na garupa do Oil Man e o Coppola comendo um cachorro-quente com duas vinas. Sobre a ilustre visita, a moça do cafezinho da Boca Maldita reconheceu que o mesmo aconteceu com o ator Anthony Quinn, quando este passou uma temporada filmando no Paraná. No terceiro dia a turma perde o respeito:

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– Disfarça e faz que não vê! Lá vem outra vez o chato do Coppola!

Se fosse vivo, como Paulo Leminski seria recebido hoje na Boba Maldita? Quando se comemora os 70 anos do poeta, a pergunta nos remete à cena imaginária do setentão passeando pela Rua das Flores, depois ter tomado um chá na Confeitaria das Famílias:

– Lá vem o chato do Leminski. Agora que parou de beber, só falta entrar para a Academia Paranaense de Letras.

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– Pior! Foi convidado para trabalhar na Secretaria de Cultura e ficou de pensar.

– Huuumm… o que esperar de um atleticano?

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– Ontem ele passou aqui com uma cópia do próximo livro embaixo do braço.

– Livro? Que livro? Alguma editora ainda se interessa por trocadilhos em forma de haicai? 

– É uma autobiografia!

– Se o coitado contar tudo o que passou em Curitiba nos últimos 20 anos, não sobra pedra sobre pedra naquela pedreira que querem transformar numa boate ao ar livre?

– Por falar em encrenca, quando será liberada essa Pedreira que o Ministério Público não concorda com o nome?

– No dia em que o Tribunal de Contas liberar a licitação para o metrô de Curitiba!

– Ou seja: quando o Leminski se aposentar pelo INSS e tiver sossego para escrever a continuação do Catatau!

– Afinal, do que está vivendo o polaco?                       

– Bicos! Aqui e ali. Volta e meia o chamam para fazer um trabalhinho em alguma agência de propaganda, junto com o Rettamozzo. Os dois velhinhos estão fora do mercado, dizem lá no Bar do Maneko´s.

– Se ele parou de beber, o que faz lá no Maneko´s?

– O marginal que fala latim aburguesou-se. Aparece no final da tarde, pede uma Sukita e fica jogando conversa fora com o Luiz Geraldo Mazza. Outro dia o Jamil Snege apareceu por lá…

– O turco ainda vive?

– O escritor ainda vive. Mas, pelo que se sabe, tudo o que escreveu foi sepultado pela família.

– Leminski foi convidado pelo Jamil para escrever roteiros de televisão para a campanha política de Roberto Requião e não aceitou.

-Tem certeza que não aceitou? Seria um cascalho para passar o resto do ano viajando na maionese!

– Nos livramos do chato! Leminski acaba de entrar na livraria.

– Foi ver se vendeu algum livro nos últimos meses!

– Segundo diz o gerente, ele jura que ainda vai vender cem mil exemplares de sua antologia poética.

– Nem morto!

– Hiiiii…. olha só quem vem lá!

– O chato do Dalton Trevisan!

– Disfarça e faz que não vê! Vamos tomar um uisquinho na sacada do Braz Hotel. O problema dessa cidade é que aqui tem muito urbanista, poeta e contista!