O sabor da saudade

Tenho saído pouco de casa. Após duas semanas sem bater o ponto, nesta segunda-feira fui rever os amigos do bar Ao Distinto Cavalheiro. No dia seguinte às eleições, o bar da esquina é o melhor observatório – ou locutório – para o cronista.

No balcão de um bar o contraditório é moeda corrente. Como discutir futebol e político, se no recinto todos defendem as mesmas ideologias e bandeiras? A unanimidade é um bar vazio. Boteco de esquerda ou de direita só é admissível do ponto de vista de quem sobe ou desce a rua. De esquina, melhor ainda. Se todos defendessem o mesmo candidato, não seria um bar, seria um tédio.

Éramos três no balcão daquela esquina, quando uma distinta senhora se aproximou à porta e, sem entrar, nos perguntou:

– O professor Wella está?

– Está na sala ao lado! – respondi.

Com dois pacotes na mão, a distinta senhora agradeceu e os adictos ao balcão continuaram em suas elucubrações etílicas eleitoreiras. Minutos depois, o professor Wellington (Wella) Borges da Costa– titular da cadeira de Português do curso positivo e um dos dois sócios do Ao Distinto Cavalheiro – entra por trás do balcão, abre dois pacotes de salgadinhos e nos oferece:

– A mãe do Dininho é quem acaba de trazer!

Depois de tantos anos de boteco, nunca imaginei presenciar alguma coisa tão comovedora. Para lembrar o aniversário de Dino Almeida Júnior, sua mãe Nadiege Almeida trouxe aos amigos de Dininho duas caixas dos quitutes preferidas do filho falecido há dois anos: quibe assado e pasteizinhos de carne e palmito. Feitos com o amor e as mãos da saudosa mãe.

– Conforme me disse dona Nadiege – esclareceu o professor Wella -, no dia do velório do filho foi quando ela descobriu que os verdadeiros amigos dele estavam aqui no bar. Esses salgadinhos eram os preferidos do Dininho.

Dona Nadiege tinha bons motivos para procurar o professor. No dia seguinte ao falecimento de Dino José Bronze de Almeida Jr. (aos 46 anos, em 29 de setembro de 2012), Wella escreveu um longo texto sobre o filho do grande colunista social de mesmo nome, falecido em 2001, do qual extraio um trecho: “Quando cheguei a Curitiba, em 1995, ele cumpria seu último ano como vereador. Mas eu nem sabia de sua existência. Fui conhecê-lo muito depois. Em outra fase de sua vida. O Dininho que eu conheço é o Dininho dos últimos dias. (…) O Dino que escolheu viver. Tinha sérios problemas com o fígado, estava na fila do transplante e, nitidamente, escolheu viver. Cuidava muito da alimentação. Cuidava-se o Dininho”.

Quando perguntam a diferença, o Professor Wella costuma dizer que o bar é um estabelecimento comercial e o boteco é uma extensão da residência. Se me perguntarem agora qual o meu inesquecível acepipe de boteco, vou responder: os pasteizinhos da dona Nadiege Almeida. Eles têm o gosto da saudade!