Fortaleza debruçada sobre o Rio Tejo, a Torre de Belém lembra um rinoceronte. Posto de observação das caravelas dos descobridores, a torre exibe em uma de suas guaritas a discreta cabeça de um rinoceronte que não só entrou para a história de Portugal, como também para a história da arte.
Em 1514, o rei D. Manuel I mandou construir uma fortificação no reino de Cambaia. O rei Modofar não cedeu ao pedido mas, em troca das oferendas recebidas, deu de presente ao rei D. Manuel I um rinoceronte. A chegada do animal a Lisboa foi um furor em toda a Europa. Com mais de duas toneladas, uma pele espessa e rugosa que lhe dava a estranha aparência de usar uma armadura, parecia um bicho de outro mundo. Lembrando as histórias romanas sobre o ódio mortal entre elefantes e rinocerontes, D. Manuel organizou um combate de verdade entre os dois animais. Ao se encontrarem frente a frente, o elefante, que parecia ser o mais nervoso, entrou em pânico e fugiu com a aproximação do rinoceronte.
Um ano depois, D. Manuel I decidiu mandar alguns presentes ao papa para consolidar seu prestígio em Roma. Entre as ofertas encontrava-se o rinoceronte, que usava uma coleira de veludo verde com rosas e cravos dourados. Ao largo de Gênova, uma tempestade afundou a nau sem deixar nenhum sobrevivente. O rinoceronte, embora soubesse nadar, acabou por se afogar por causa das amarras. No entanto, foi possível recuperar o corpo do bicho. Ao saber da notícia, D. Manuel ordenou que o rinoceronte fosse empalhado e enviado mesmo assim ao papa, como se nada tivesse acontecido.
Mesmo sem ter feito sucesso no Vaticano, a maior glória do rinoceronte foi entrar para a história da arte através de uma clássica gravura de Albrecht Dürer, baseada numa carta que continha o desenho do rinoceronte. A obra de Dürer foi tão difundida que condicionou os desenhos do rinoceronte pelos séculos seguintes, até ser corrigido pelos naturalistas. Mas muitos peritos concordam que, no essencial, a gravura de Dürer continuou a influenciar a forma como os ilustradores representam esse bicho do outro mundo.