A propaganda decretou que as meninas nunca esquecem o primeiro sutiã. E os meninos nunca esquecem o vislumbre daquele misterioso tecido, a primeira namorada e o primeiro beijo.

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Bem mais que o primeiro sutiã, o primeiro amor é o que primeiro acende na memória das meninas. O primeiro beijo, nem tanto, ele pode ter sido uma experiência estouvada. Aos meninos de outras gerações, a primeira matinê, de mãos dadas com a primeira namorada, faz lembrar o primeiro baile de rosto colado, o uísque com guaraná e o band-aid no calcanhar.

Coisa boa sempre tem sua primeira vez e é para se guardar na memória. Coisa boa foi o primeiro passeio de bicicleta, o primeiro banho de rio. A primeira bola, a primeira camisa de futebol, o primeiro gol. O primeiro livro de Monteiro Lobato, o primeiro colégio, a primeira professora, o primeiro boletim, o perfume do primeiro lanche na lancheira.

Menino do interior, coisa boa a primeira fatia de pizza, o primeiro frapê, de coco, morango ou baunilha, um seguido do outro. A primeira geladeira em casa, quem lembra do primeiro picolé de leite no congelador?

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O primeiro carro, o primeiro fusca, a caminho da praia pela primeira vez. Privilegiados foram os que nasceram bem longe do oceano, os de beira-mar não sentiram nos olhos o mar pela primeira vez.

O primeiro gibi, a última canção do Roberto, o primeiro disco dos Beatles. A primeira carteira de trabalho e o primeiro emprego. A primeira eleição e o primeiro voto. Quem há de esquecer o primeiro voto para presidente? O primeiro voto contra a ditadura ninguém esquece. Meu primeiro voto foi em Curitiba. Coisa boa foi ver os pedestres tomando conta da Rua XV, enquanto o velho MDB invadia a cidade: Maurício Fruet para deputado estadual, Alencar Furtado para deputado federal, Leite Chaves para senador. Na Rádio Iguaçu, era sempre calmo o início da madrugada. Na Rádio Ouro Verde, saudade não tinha idade.

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Voto útil, coisa boa era votar contra a ditadura, abrir o jornal onde o presidente do maior partido do Ocidente, Francelino Pereira, reconhecia que a Arena passava a ser um “partido dos grotões”. A lavada do MDB, aquele sim velho de guerra, lavou pela primeira vez o coração da estudantada naqueles embalos do século passado.

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Melancólico esse pedacinho de século. Meninas e meninos votam por obrigação.

– Lembra do teu primeiro voto?

– Mais ou menos.

– E o que isso te deixou na memória?

– A primeira vez que comi chuchu.