O ano já era, todos a postos para comemorar a data máxima do consumismo. Caso São Francisco de Assis agora nos visitasse, trazendo pela mão o filho do carpinteiro, perguntaria perplexo:

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– Onde esconderam o meu presépio?

No que Jesus Menininho responderia:

– O Papai Noel está sentado em cima!

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– E onde esconderam as cigarras, que não ouço nenhuma cantar? -perguntaria ainda Jesus a São Chico, que responderia olhando em volta:

– Não enxergo nem mesmo vaquinhas do presépio!

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Pobre São Francisquinho, como iria imaginar que no futuro as vaquinhas de presépio seriam os seus semelhantes? Estes que agora assistem, sem mugir, o Natal transformado em data propícia para se endividar ainda mais com créditos consignados.

São Francisco teria motivos para se derramar em lágrimas. Afinal, foi ele que inventou o presépio, um curral onde se recolhe o gado, a manjedoura e não o cenário de Las Vegas, onde é entronado um bonachão vestido de vermelho.

No ano de 1223, quando os templos do consumismo nem eram imaginados lá nos quintos dos infernos, São Francisco de Assis estava limpando sua estrebaria quando teve a ideia de recriar o presépio de Belém a céu aberto, para explicar o nascimento de Jesus. Em vez de comemorar a noite de Natal em frente a um altar, transportou a manjedoura inteira para o pátio em frente à igreja, incluindo a vaquinha, a ovelha e o burrinho. Um pequeno lago, patos e marrecos também fizeram figuração ao vivo no primeiro presépio de que se tem notícia, com aquele sentido educativo para a gente simples e crédula do interior da Itália.

A moda pegou. Espalhou-se a notícia do presépio de São Chico e, nos natais seguintes, catedrais, mosteiros e capelas de toda a Europa criaram suas próprias versões da manjedoura que hospedou Maria e José. Para os fiéis, dezembro passou a ser o mês da divertida montagem do presépio, uma tradição que encantava a todos. Inclusive a nobreza, que ajudava a montar o presépio para os criados.

Em 1567, a duquesa de Amalfi exagerou. Encomendou para um escultor de Napoli 116 figuras em barro para um presépio que causou inveja na nobreza europeia e, a partir daí, o Natal nunca mais foi o mesmo.