O que foi sem nunca ter sido. Esse também poderia ser o título do tributo que presto ao arquiteto Rafael Dely às vésperas da eleição. Criador do sistema trinário, entre outras contribuições à cidade, Rafael Dely nos deixou com um projeto não realizado: ser prefeito de Curitiba.

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Amigo e parceiro de Jaime Lerner desde os tempos de bolsistas em Paris, oportunidades não lhe faltaram. Faltaram ao arquiteto as artimanhas da política e a ambição desmedida. A maior das oportunidades surgiu em 1992, quando Jaime Lerner procurava um sucessor entre os seus colaboradores mais íntimos e credenciados. Três eram os nomes possíveis: Cassio Taniguchi, Carlos Eduardo Ceneviva, os mais articulados, e Rafael Dely. O ungido foi um nome quase impossível: Rafael Greca de Macedo, que furou a fila, atropelou a hierarquia e se mostrou bem mais bem articulado e ambicioso que os outros três mosqueteiros de Lerner. Olhando à distância, hoje podemos dizer que o jovem Rafael Greca foi com muita sede ao pote. Se tivesse respeitado a fila, quatro anos depois de ter sido eleito prefeito a reeleição lhe teria caído no colo. Azar de Greca, a reeleição caiu nos braços de Taniguchi.

Rafael Dely poderia ser prefeito de Curitiba porque, depois de Jaime Lerner, a cidade escolheu um modelo de gestão que tinha os figurinos desejados nos arquitetos Ceneviva e Dely. Ao lado de Jaime Lerner, Rafael começou a pensar Curitiba em 1967, quando entrou para o IPPUC, do qual foi presidente na primeira gestão de Jaime Lerner. No início dos anos 1970, quando muitas cidades brasileiras alargavam ruas e construíam viadutos para caber cada vez mais automóveis, Curitiba fechava ruas ao tráfego e estreitava outras, alargando os passeios para pedestres. Rafael Dely conseguia enxergar coisas importantes, enxergava o óbvio, enquanto outras cidades procuravam abrir as avenidas do inferno em que hoje se encontram. 

Desde o tempo que morou em Paris, Rafael Dely sabia muito de vinhos. Três anos ou mais antes de falecer (janeiro de 2007), nos encontrávamos com certa frequência no bar Ao Distinto Cavalheiro, no início da noite. Com o copo de vinho meio cheio, meio vazio, num desses últimos dias o urbanista nos dizia que, em 2008, gostaria de se candidatar a prefeito por um partido nanico, para discutir o futuro da cidade.

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Naquela mesa da prefeitura está faltando ele.