Inacreditável. De tão caro, em São Paulo uma cantina italiana tirou do cardápio todos os pratos que levam tomate. Da salada ao molho. O tomateiro é agora o veneno da inflação. Na pizzaria, no verdureiro ou no Mercado Municipal, é só o que se pergunta: “Sabe quanto está custando o quilo do tomate?”.    

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Se você não sabe, eu sei o preço tomate. E sei quanto custa pelo seguinte: estudei num colégio agrícola. Regime interno, com uma agenda assustadora para os meninos da cidade: 6h despertar; 6h30 estudar ou tirar o leite das vacas; 7h30 café da manhã; 8h30 aula; 12h almoço; 14h em diante, trabalho na roça. Ao anoitecer, sem televisão, a biblioteca do colégio estava à disposição. 21h alojamento, e o sono era o de uma pedra.

Por isso posso dizer que comecei a trabalhar aos 14 anos, no cabo da enxada. De 1964 a 1968, foram cinco anos de concentração no campo. Ou seria um campo de concentração onde plantei e colhi morangos, cenouras, milho, feijão, arroz, batatas, laranjas, abobrinhas e, principalmente, tomates! De onde vem minha amarga experiência com hortifrutigranjeiros.

Como parte do aprendizado agrícola, os alunos recebiam uma pequena área de terra e financiamento da cooperativa agrícola colegial para plantar o que cada um escolhesse. Ambicioso, optei por plantar tomates. O tomateiro prefere climas subtropicais ou temperados, frescos e secos. Produz em qualquer solo, mas prefere os areno-argilosos, frescos, soltos, permeáveis ou de fácil drenagem.

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O tomate era de fácil comercialização e renderia um bom lucro, porém (sempre tem um porem para atrapalhar os negócios) é um fruto dos mais sensíveis às pragas. E este foi o erro do ambicioso. Após o transplante das mudinhas, com o tomateiro viçoso e prometendo uma boa colheita, alguém rogou uma praga e a praga me levou a comprar um poderoso agrotóxico. Errei na dose. Apliquei o inseticida num fim de tarde e, na manhã seguinte, não sobrou sequer um tomateiro para contar a minha história de fracasso.

Dizem que é errando que se aprende. Aprendi as manhas da simplicidade e fui plantar abobrinhas. Até hoje gosto e tenho boas lembranças das abobrinhas. Abobrinha não é batata, mas quando nasce também se esparrama pelo chão. Uma cova aqui, uma semente acolá, não requer muita prática e habilidade. Com um ganho a mais: sem gastar dinheiro com agrotóxicos, elas ficam bem mais gostosas.

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Agora, com as mãos calejadas de tanto lápis, pincel e teclados, posso afirmar com muito orgulho: eu sei o preço do tomate! Paguei o preço!