O preço do sucesso

O sucesso, como se sabe, custa caro. Especialmente em Curitiba, onde o silêncio é ouro. O Bloco Garibaldis e Sacis está pagando o preço do sucesso. Lendo as memórias de início de carreira de Winston Churchill (“Minha Mocidade”), lá pelas tantas o estadista conta que nas universidades inglesas, no Parlamento, na Real Sociedade e no Exército, em particular, são raros os cumprimentos e desconhecidas as lisonjas: “Quando se ganha a Victoria Cross, o Grand National Steeplechase ou o campeonato de boxe dos pesos-pesados do Exército, só se pode esperar dos camaradas uma advertência contra os perigos de a sorte nos virar a cabeça”.

Para inglês ver, Curitiba guarda umas e outras semelhanças com a Londres da era vitoriana. Estamos no auge da revolução industrial, a classe média foi ao paraíso e o padrão de comportamento dos poderosos, em muitos aspectos, é o mesmo da Rainha Vitória. 

No caso dos Garibaldis e Sacis, agora só falta acusarem o bloco de presunção, por deixar a sorte lhe virar a cabeça. Com mais de cinco mil seguidores (já não temos mais foliões como antigamente), o bloco do “Cavalo Babão” vai pagar o preço que a Banda Polaca já pagou em velhos carnavais: ou contém a demanda, ou perde a graça. Ou em último caso, adeus batucada: “Vou-me embora cantando / Com meu coração chorando / E vou deixar todo mundo / Valorizando a batucada”.

O fim de festa de domingo (todos os fins de festa são melancólicos e temerários) nos leva a alguns pontos para discutir no boteco. Um, Curitiba não tem Carnaval; tem pré-carnaval. Dois, a Polícia Militar não deveria ter sido chamada para emprestar o que não tem faz tempo: segurança! E, já que compareceram, o batalhão deveria passar por um treinamento intensivo de jogo de cintura. Com todo o respeito aos Unidos do Cassetete, faltou ginga para não perder o rebolado quando alguns desafinados entoaram o “canto de apologia às drogas”, como declarou um porta-voz da Polícia Militar. Pela reação da tropa, saltou aos olhos porque Curitiba alcançou ao sexto lugar no desfile da violência. “Mas logo em Curitiba?”, pergunta a revista Veja. Sim, logo em Curitiba, onde a polícia é muito bem preparada. Só não entende de malandragem. Não é ruim da cabeça, mas é doente do pé.     

Depois de pagos os pecados na segunda-feira de cinzas, só nos resta fazer um sinal da cruz na Igreja do Rosário, convencidos de que a origem da violência foi um pequeno desentendimento.

– Sargento, me jogaram uma garrafa!

– Devolve!