Com o olho roxo e cinco pontos no cocuruto, o Animador de Velórios dos Campos Gerais teve que explicar aos amigos de Ponta Grossa porque estava de tal maneira escafiotado.

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– Fui para o paraíso e paguei o meu preço! – respondeu o Jaguara. Anteontem fui chamado a Curitiba para o velório do sogro de um compadre. O falecido morava no bairro da Caximba, a antiga lixeira da capital. Chegando lá, para levantar o astral daquela boa gente, contei uma história que faz muito sucesso nos guardamentos do Batel, Cabral e Jardim Social.     

Contei então que eu estava num passeio em Roma, quando ao visitar a Catedral de São Pedro fiquei abismado ao ver uma coluna de mármore com um telefone de ouro em cima. Vendo um jovem padre que passava pelo local perguntei a razão de tal ostentação.

O padre então me disse que aquele telefone estava ligado a uma linha direta com o Paraíso, e que se eu quisesse fazer uma ligação teria de pagar 100 dólares.

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Fiquei tentado porém declinei da oferta. Continuando a viagem pela Itália, encontrei outras igrejas com o mesmo telefone de ouro na coluna de mármore. Em cada uma das ocasiões, perguntei a razão da existência e a resposta era sempre a mesma: linha direta com o paraíso ao custo de 100 dólares a ligação.

Depois da Itália, vim para o Brasil e fui direto para Curitiba. Ao visitar a nossa gloriosa Catedral Metropolitana, na famosa Praça Tiradentes, fiquei surpreso ao ver novamente a mesma cena: uma coluna de mármore com um telefone de ouro. E sob o telefone um cartaz que dizia:

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– Linha direta com o Paraíso. Preço por ligação: R$ 0,25 (vinte e cinco centavos).

Não me aguentei e, curioso, entrei na Catedral e perguntei para um padre que estava saindo do confessionário:

– Padre, viajei por toda a Itália e em todas as catedrais que visitei vi telefones exatamente iguais a esse, mas o preço da chamada era 100 dólares. Por que só aqui custa apenas 25 centavos?
O padre sorriu e disse:

– Meu irmão, você  está  em  Curitiba. Aqui a ligação é local!

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– O povo da Caximba não gostou da anedota?

– Compadre, o bode que deu vou te contar. Fedeu cachorro molhado. Chutaram as gaiolas das baitaca, me acertaram murro no olho e correu ripa no velório. Depois de levar uma rasteira, bati com a cabeça na alça do caixão, e entre as garrafadas saí chispando da Caximba.

– Essa história de que Curitiba é um paraíso deixou o povo atacado dos córno!

– É o que eu sempre digo – desabafou o Jaguara – não se fala em corda na casa de enforcado. Curitiba é uma cidade jeitosa, mas para chegar ao paraíso tem o seu preço.