Na Copa de 50 foi bem diferente. Metrô, conclusão da Arena, terceira pista do aeroporto, contorno ferroviário, Rodoanel, trincheiras, tudo somado com uma recauchutagem geral mostra que Curitiba precisa dos palpites da Europa para mudar o seu panorama urbano. Depois do Plano Agache, agora temos o Plano Blatter.

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O índio Tindiquera indicou o local para erguer esta Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Em seguida, quase todos os outros caciques que projetaram Curitiba vieram da Europa. Franceses, principalmente. Em 1853, quando o Paraná se tornou independente de São Paulo (agora a Quinta Comarca foi restaurada pelo J. Malucelli), a vila recebeu o engenheiro francês Pierre Taulois para orientar o traçado e o alinhamento das ruas. Nessa época, passou por Curitiba o médico alemão Maurício Avé-Lallemand que, mesmo assustado com a sujeira, achou que aquele amontoado de casas ainda teria algum futuro. Na década de 1870 o engenheiro inglês Thomas Bigg-Wither comparou Curitiba a um aglomerado de tendas e cabanas, formando um acampamento prestes a receber ordens de fugir. Visconde de Taunay inaugurou o Passeio Público, a primeira grande obra de saneamento da cidade, e depois dele muitos outros caciques traçaram o destino de Curitiba: Ney Braga, Ivo Arzua, Jaime Lerner, até chegar ao cacique tucano Beto Richa. Um dos mais importantes desses caciques foi o arquiteto francês Alfred Agache que, em 1940, recebeu a incumbência de estabelecer diretrizes para o crescimento urbano, estimulando e orientando o desenvolvimento.

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O Plano Agache marca Curitiba até hoje e, acreditem, não foi feito para a Copa do Mundo de 1950, quando (sem metrô, andando de bonde e carroça de polaco) Curitiba recebeu na Arena da Vila Capanema duas partidas de segunda divisão: Espanha 3 x 1 EUA (15 mil pessoas); Suécia 2 x 2 Paraguai (10 mil pessoas). De 1949 a 1951o prefeito de Curitiba foi Lineu Ferreira do Amaral. Além dos recursos naturais, ele pouco investiu para trazer a Copa de 1950 para Curitiba. Dizem na Boca Maldita que os inspetores da Fifa, quando apareceram na cidade com o caderno (mimeografado) de encargos, foram recebidos pelos assessores da prefeitura na boate Boneca do Iguaçu. Dormiram no Quatro Bicos e de lá voltaram para o Rio de Janeiro encantados com a infraestrutura das nossas argentinas. A Vila Capanema foi escolhida porque foi o único estádio vistoriado pelo lado de fora, na madrugada, no trajeto entre a boate Boneca do Iguaçu e o Quatro Bicos, tradicional cinco estrelas da Maria Japonesa. (Não foi assim, Ernani Buchmann?)

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Como subsede do Mundial de 1950, Curitiba ofereceu aos visitantes uma acolhida cordial e barata. Em termos de investimentos, o prefeito Lineu do Amaral só precisou passar a patrola no caminho do aeroporto e fazer uma boa limpeza no chafariz da Praça Osório. De resto, Curitiba recepcionou o grande evento esportivo com o que tinha de bom e do melhor: a Suécia só empatou com o Paraguai porque o time virou a noite anterior na Boate Marrocos, do Paulo Wendt. Os paraguaios, por sua vez, ficaram concentrados na Moulin Rouge e foram dormir muito bem acompanhados. Os americanos levaram uma lavada dos espanhóis, mas também saíram daqui bem satisfeitos, como se estivessem em Las Vegas: foram para o Cassino Ahu e voltaram mais ricos do que chegaram.

Sorte no jogo e azar no amor. Convidados para um baile organizado pelo Clube Espanhol, los calientes guapos do Generalíssimo Franco ficaram atarantados pelas mocinhas da cidade. Só não entraram com bola e tudo porque receberam marcação homem a homem da tradicional família curitibana.

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Enfim, sessenta e nove anos depois, sai o Plano Agache entra o Plano Blatter, em homenagem ao presidente da Fifa. E, se for para levar à risca os planos de Joseph Blatter, ainda veremos o Ricardo Teixeira no Ministério das Cidades e um tal de Thierry Weil, diretor de marketing da Fifa, presidente do Ippuc.