Não sei se o governador Beto Richa é tão atleticano quanto o cronista Augusto Mafuz, mas entre um e outro eu gostaria de uma cadeira na Arena da Baixada ao lado da cadeira do Mafuz. Junto ao governador arriscaria passar noventa minutos falando de automobilismo, com que o cronista não só ganharia algumas lições de futebol, como também sairia convencido de que, nessa encrenca tripartite da construção da Baixada, o governador Beto Richa deu uma de Maneco Facão.
Maneco Facão, pra quem chegou agora, era o apelido do ex-governador Manoel Ribas (1872/1946). Um paranaense da cepa e não gaúcho, como fazia crer sua velha amizade com Getúlio Vargas, por quem foi nomeado interventor do Paraná. De gaúcho Maneco Facão só tinha a peculiaridade de ser quase tão grosso quanto papel de embrulhar prego. Certa feita, recebido com um banquete numa cidade do interior, o orador se apresentou para a saudação com um catatau de folhas de papel almaço. O homenageado, ao calcular o tempo perdido, interrompeu o discurso dizendo:
– Isso é em minha homenagem, não é?
E, apanhando o calhamaço das mãos do orador, fez a plateia respirar aliviada:
– Deixa que eu levo pra ler em casa! Apesar de ter morado no Rio Grande do Sul, Manoel Ribas não era colorado nem gremista. Como bom brasileiro, gostava de futebol e torcia pelo Clube Atlético Paranaense.
Diz a lenda que, numa daquelas incertas bem ao seu feitio, o temido Maneco Facão viu uma escrivaninha vazia com o indefectível paletó nas costas da cadeira. Ao perguntar o paradeiro do funcionário, o chefe da repartição respondeu meio que gaguejando:
– Ele tinha outro compromisso, governador!
Maneco Facão cortou a conversa:
– Ele está despedido!
Gaguejando mais ainda, o chefe confessou:
– Governador, mas o faltoso é o nosso goleiro Ivan! Ele tem treino hoje e volta logo!
Após um respeitável pigarro, o interventor serenou:
– Olha, pensando bem, basta dar um ‘pito‘ nele…
Ivan, que na Boca Maldita tinha o apelido de Cachorro Louco, foi o goleiro do Furacão em 1942. E o ‘pito‘ do Manoel Ribas foi quase o mesmo ‘pito‘ que o Beto Richa deve ter dado no Mario Celso Petraglia, ao reconhecer que o Atlético terá a sua obrigação limitada a 1/3 do valor total da obra da Arena da Baixada, isso depois de compensar o que já pagou – conforme escreveu Augusto Mafuz.