O pepino europeu

(De Paris) Podemos dizer que Jaime Lerner é o paranaense que mais tem rodado mundo nestes últimos anos. Com uma maleta de mão (e ele mesmo lava suas cuecas no banheiro do hotel), por conta de seu prestígio internacional o Giramundo tem passado em revista os melhores restaurantes do planeta Mesa. Portanto, e com o peso (está mais magro o ex-prefeito) de suas observações, podemos acreditar quando ele nos diz (não sem uma certa ironia) que os preços dos restaurantes em Nova York são iguais aos de São Paulo e os bistrôs de Paris se igualam aos de Curitiba. Pode parecer absurdo, mas tem restaurante em Curitiba cobrando mais caro por um “filé au poivre” do que o Le Procope, por exemplo, o mais antigo de Paris.

Não é o caso do Le Procope, que não pode ser chamado de bistrô. Mas cinquenta euros é em média o que nos custa um almoço para dois em bistrôs de preços médios, de cozinha bem acima da média. Como se lê num bistrô de Montmartre: “Entrée, plat, dessert: 25 euros”. Traduzindo: entrada, prato e sobremesa, com 150 reais comemos muito melhor, com custo benefício mais em conta, do que em muitos restaurantes do circuito chique de Curitiba. E quanto ao vinho, não vamos considerá-lo na “addition” porque essa conversa vai longe e quem pode escrever sobre isso é Luiz Carlos Zanoni, que por sinal também está aqui na vizinhança do Le Procope.

Aliás, em Paris vinho não mais se discute. O que se discute é o tamanho do pepino que a Europa arrumou com a insidiosa bactéria “E. coli” que matou pelo menos 18 pessoas e, até a noite de sexta-feira, havia sido identificada em 12 países. A Alemanha, onde a “dor de barriga” começou e onde está a maioria dos doentes, já tem mais de 1,7 mil casos de infecção.

A causa da epidemia, que de acordo com suspeitas teria começado em um restaurante na cidade alemã de Lübeck, é a ingestão de um alimento cru ou mal cozido. Ou seja: além do pepino, o tomate e a salada podem ser vetores da bactéria. Qualquer desses legumes poderia ter estado em contato, ao longo de sua produção ou de seu transporte, com dejetos de animais contaminados pela bactéria. Mas são os pepinos de toda nacionalidade – não só dos coitados espanhóis – que encalham na ponta das gôndolas e nas barracas de feira, apesar dos preços bem rebaixados. As pessoas têm medo de comprar e consumir. Com a crise chegando à mesa, as autoridades sanitárias da Europa recomendam um antídoto: higiene e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Felizmente, a taxa de infecções pela E. coli está dando seus primeiros sinais de queda. Mas a possibilidade da bactéria chegar ao Brasil não é impossível. Principalmente se for através dos preços de alguns dos nossos restaurantes: quando o pepino europeu vem embutido na conta, a dor de barriga é imediata.