Precisou a vinda do papa para resolver um antigo contencioso nos meios culturais de Curitiba. Desafeto do escritor Dalton Trevisas, 64 anos depois de morto o escultor João Turin será abençoada pelo Papa Francisco, nos informa Sandro Moser (Caderno G, Gazeta do Povo): “A estátua Frade Lendo do escultor paranaense João Turin (1878-1949) será o presente oficial que o papa Francisco receberá do governo brasileiro durante sua visita ao país na próxima semana. Esculpida por Turin na segunda metade da década de 1930, a estátua de bronze já foi entregue em doação ao cerimonial da Presidência da República, na última terça-feira, pelo empresário Samuel Lago, proprietário do acervo das obras de Turin”.

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Considerado por muitos um artista à frente de seu tempo, cheio de estilo e com formação artística na Bélgica e na França, JoãoTurin foi quase arrastado em praça pública pelas mãos do escritor Dalton Trevisan. “Turin”, de forma curta e grossa, é o título da sentença assinada pelo Vampiro de Curitiba, quando o precursor da escultura no Paraná foi sumariamente jogado no olho da rua para zombaria pública.

No trecho a seguir, as imprecações do Vampiro:      

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“Casa João Turin: a porta se abre para o vazio, as janelas olham para o nada. Fosse tão medíocre não me lembrava. Mesquinho talento, nenhuma grandeza. Pobres bustos. Lamentáveis onças, baixos-relevos desde o nome. Nem lampejo de originalidade, nadinha que se salve. Como se explicam os prêmios? Ora, prêmio de salão. E os doze anos de Paris, de que serviram? Me lembro dele, a sua melhor escultura. Grandalhão, bruto naso, imponente de bengala. Majestoso, ele, sim, uma estátua viva. Revolta cabeleira, vozeirão macarrônico, o prestígio dos longos anos em Parigi. Ah, o chapelão de boêmio de opereta. Isso mesmo: personagem de opereta. Gargântua inofensivo, adorado pelos amigos. Visitei-o no estúdio, mais artístico que o artista. O fascínio de sua presença desarmava qualquer crítico. Me acode agora, fui ao seu enterro, muito concorrido. O orador de um gorjeio só: Turin, a voz da terra! Ai de quem morre em Curitiba. Ai do nosso príncipe feliz, péssimo acadêmico, nenhuma garra. Engenho pífio, será que não desconfiava? No homem tudo era grande: a manzorra, o narigão vermelho, o brado retumbante. Na obra, tudo pequeno: concepção, fatura, material. Há que distinguir, sem ofensa: uma não vale o outro”.

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Nos meios artísticos de Curitiba, é grande a expectativa . João Turin será reabilitado com a bênção do papa? Ou o escultor irá purgar a eternidade no olho da rua, já que até a Casa João Turin foi fechada pelo governo? Caso o Vampiro de Curitiba não recorra ao Supremo, a obra de Turin irá para o Museu do Vaticano? Ou vai permanecer nas catacumbas dos opróbrios?