Enquanto o metrô não vem, para passar o tempo só nos resta ler as notícias dos jornais para saber como vão indo as obras da Linha Verde. Vão bem, obrigado, manda dizer a prefeitura. Esperamos que sim, pois a urbanização da antiga BR-116 é uma novela tão arrastada quanto a construção do metrô.

continua após a publicidade

Desde quando o voto era proibido para menores de 18 anos, a Linha Verde foi promessa obrigatória dos candidatos a prefeito de Curitiba. Sem exceção, todos juravam acabar com o Muro de Berlim que cortava a cidade ao meio. O projeto, prestes a ser inaugurado, será a grande intervenção urbana do início do século. Vai unir o sul ao norte, interligar o leste ao oeste. A Linha Verde é tão importante para unificação da região metropolitana que, depois da pintura e acabamentos, veremos outra paisagem surgir ao longo da BR-116 de triste memória. Vai ser a cidade do futuro, com um novo muro divisor: a muralha de espigões que devem brotar nas margens do traçado.

Já antes de ser inaugurada, porém, a Linha Verde vem recebendo atenção especial dos críticos. Para muitos, o desenho é modesto, posto que na linha do antigo Muro de Berlim não estão sendo construídas trincheiras, passagens de nível e até viadutos. Terá dez quilômetros de ciclovias, é verdade. Mas, para os mesmo críticos, a Linha Verde não vai cumprir a função que os proprietários de mais de um milhão de carros esperam dela: facilitar o fluxo dos veículos.

Esse é um dos melhores defeitos e uma das piores qualidades de Curitiba: nove em cada dez curitibanos são urbanistas. O único que resta não é arquiteto, é engenheiro.

continua após a publicidade

***

Os que pedem viadutos na Linha Verde têm razões que a razão desconhece. Curitiba é uma cidade carente de trincheiras, passagens de nível e viadutos; e não é de hoje que a falta de um viaduto atravanca o progresso da indústria automobilística. Em 1965, quando o então prefeito Ivo Arzua dava partida à reforma urbana que só começaria a se concretizar em 1972, um dos nossos milhares de arquitetos (este com diploma) tinha idéias fantásticas a respeito de circulação e trânsito em Curitiba. Entre os delírios da sumidade figurava um viaduto, ligando a Praça Tiradentes à Praça Carlos Gomes, área onde havia um grande conflito de trânsito. Aí se eliminariam os gargalos, só que se criariam dois, um no começo e um no fim do viaduto, ou seja, simplesmente se mudaria o gargalo de posição.

continua após a publicidade

O viaduto digno de São Paulo não é ficção deste cronista, como pode parecer. Está escrito nas memórias da engenheira Francisca Maria Garfunkel Rischbieter, num dos volumes da coleção Memória da Curitiba Urbana, editada pelo Ippuc.

***

Franchete Rischbieter, no mesmo depoimento à memória, lembra de outro Muro de Berlim de Curitiba. Só que este no centro da cidade e que só existe por culpa dos próprios técnicos que mudaram a face de Curitiba.
A mãe de Mônica e Luca Rischbieter disse: “Um erro grande da época foi termos aberto a rua atrás da Catedral (a ligação com a Rua Augusto Stellfeld): foi falta de experiência. Ao abrirmos essa rua, jogamos fora todo o patrimônio cultural e arquitetônico (Centro Histórico) da área e cindimos a cidade. Porque, por mais que se tente, o que está ao sul da rápida nada tem a ver com o que está ao norte. Nada há que se consiga ligar: passagem inferior, passarela, não há. Mas… só se aprende errando”.

Recuperar esse reconhecimento de fracasso de uma mulher de sucesso é uma lição para o presente. Por mais reparos que se possa fazer à Linha Verde… só se aprende errando. E se algo estiver errado, importante será reconhecer o erro, e consertar. Com S maiúsculo. O concerto com C fica para a tão esperada inauguração.

***

Em homenagem à doutora Franchete, fica uma pergunta para o próximo século: quando vamos unir o Centro Histórico ao outro lado da cidade, ligar o Largo da Ordem à Catedral?