Jaguara, o animador de velórios dos Campos Gerais, conhece o misterioso apostador que não apareceu na Caixa Econômica Federal para embolsar os R$ 22.933.056,04 da Mega-Sena: “É um antigo companheiro de caserna. Servimos juntos na 5ª Brigada de Cavalaria Blindada de Ponta Grossa. Não estou autorizado a dizer o nome do felizardo, a pedido do próprio, mas posso adiantar que desde o tempo de quartel o apelido dele era Pandorga”.

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Pandorga? Segundo o Jaguara, ganhou esse apelido por se encontrar permanentemente nas nuvens. Era um poeta. Com a cabeça longe da ordem unida, o sonho do Pandorga era juntar dinheiro para comprar alguns alqueires, para passar o resto da vida escrevendo poesias e contando carneirinhos nas coxilhas dos Campos Gerais.

Domingo passado, ao visitar o velho amigo, Jaguara ficou sabendo do inusitado:

– Quem seria o milionário de Ponta Grossa, compadre Pandorga?

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– Pois tá falando com o baita!

– Como assim?

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– Ganhei e joguei fora o cartão premiado!

– Mas essa dinheirama não se joga no ralo!

– Não foi no ralo. Joguei no Rio dos Papagaios.

– E a razão de tal insânia?

– Sossego! Não há dinheiro no mundo que me tire desse sossego aqui nos Campos Gerais. Ao clarear do dia tiro leite das vaquinhas, tomo o meu “camargo” (café feito na hora, com leite tirado direto na caneca, sem açúcar), passo a cuia do chimarrão, separo um borrego pro churrasco de domingo, estico os olhos na plantação de soja e vou por aí a vadiar no campo. Um dia vou a Ponta Grossa tomar uns tragos com os amigos Roque Sponholz e Hein Bowles na Choperia do Tito, noutro dia chego na Palmeira para cumprimentar a dona Rosane no Restaurante Girassol. Ou então passo em Tibagi para me deliciar com pastel da Fátima do Wilsinho! Ele é aquele camarada que diz para você “chacoalhá” o pastel para saber se é de carne ou de palmito! Se fizer um “baruínho” é o de carne! Além do mais, a paisagem do canyon Guartelá não tem preço.

– E a poesia? – pergunta o Jaguara.

– Agora vou escrever um romance de final feliz: “O milionário de Ponta Grossa”.