O mesmo de sempre

No dia 3 de outubro de 1930, Porto Alegre acordou sob leve garoa. Em Curitiba chovia e no Rio de Janeiro, Capital Federal, uma nuvem negra não saía de cima da cabeça do presidente Washington Luís. Às cinco horas da tarde, ainda garoando, as metralhadores anunciaram aos gaúchos o início da Revolução de 30, o movimento armado que derrubaria o presidente Washington Luís.

A caminho do Rio de Janeiro, onde iria amarrar a égua na sombra do Palácio do Catete, Getúlio Vargas desembarcou em Curitiba no dia 20 de outubro. A chegada foi deslumbrante, segundo o adjetivo que o próprio Getúlio encontrou para definir a apoteótica recepção dos paranaenses. Conforme relatou o escritor Lira Neto, na formidável biografia de Getúlio Vargas, da estação ferroviária até o palácio do governo estadual no Alto de São Francisco, o líder revolucionário atravessou a cidade com as ruas apinhadas de gente, no banco de trás de um luxuosíssimo Packard Touring modelo 1930.

“Flores, discursos, mimos; sou carinhosamente tratado, entusiasticamente aclamado”, escreveu Getúlio num caderninho de capa marrom. Só não escreveu que as mocinhas da cidade eram bonitas e dançavam bem, mas não deixou de registrar que, além das mordomias do Hotel Moderno, à noite passeava de carro pela cidade, comia nos melhores restaurantes e assistia bons espetáculos teatrais.

Nos dois dias que ficou em Curitiba, Getúlio só se queixou das companhias masculinas: “Entro em contato com os políticos, ouço queixas, os exaltados contra os moderados, os adesistas, os aproveitadores etc.”, confidenciou Getúlio ao caderninho marrom. “No Paraná não há partidos, há grupos que se digladiam, todos querendo influir sobre o presidente, o general Mário Tourinho, homem bom, bem-intencionado, alheio à política e às manhas desta”.

Cumprida a agenda social, Getúlio embarcou para Ponta Grossa embaixo de muita chuva. Desde então Curitiba não mudou muito: chove muito em outubro e os políticos continuam com os costumes de sempre.