Curitiba é referência no transporte urbano, mas o primeiro a sentir na pele que a falta de condução em Curitiba era o fim da picada foi o alemão Robert Avé-Lallemant, em 1855. Outro pioneiro foi Erondy Silvério, quando, em 1954, o então prefeito Ney Braga passou o transporte público à iniciativa privada.

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Depois disso, Erondy seguiu carreira política. Em 1968 assumiu a presidência da Assembleia Legislativa por um ano e, mesmo governista, teve peito para expulsar de sua sala um capitão do Exército que se intitulava interventor do Legislativo estadual.Se para a ditadura fez cara de poucos amigos, de muitos amigos era aquele Erondy. Especialmente na imprensa. Além de concessionário de ônibus urbanos, tinha táxis, uma empresa de turismo e uma revendedora de automóveis, a Pavema, onde os jornalistas compravam automóvel no fio do bigode:

– Erondy, preciso de um fusca novo.

– Passa lá no pátio e leva pra casa!

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Quanto aos pagamentos, o sistema do Erondy não tinha maiores burocracias: no fim do mês um cobrador passava para receber a prestação. Se no dia aprazado faltava salário, o simpático cobrador marcava outra data para a cobrança.

Só fui conhecer Erondy Silvério pessoalmente depois do meu casamento, no retorno de alguns meses na Europa. Desempregado, recebi um telefonema do jornalista Renato Schaitza:

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– A partir de amanhã você vai começar a escrever para o programa de rádio do deputado Erondy Silvério.

– Quem, eu? Acho que esse emprego é da Maí, que é jornalista. Onde já se viu um desenhista escrever discurso de deputado?

– O salário é o dobro do piso profissional e a partir de hoje você passa a ser redator. Com a obrigação de entregar duas laudas de textos, de segunda a sexta, às 5 horas da manhã, na casa do Erondy.

Durante alguns meses passei a depositar 60 toscas linhas na caixa de correspondência da residência do deputado. Não tinha pauta e os assuntos ficavam por minha conta e risco.

O deputado Erondy Silvério não recebia Mensalão, pagava Mensalão. E não só para este cronista. Muitos foram os jornalistas que entregaram 60 linhas de texto na casa do deputado, ao cantar do galo. Alguns eram comunistas desempregados, outros anarquistas militantes, mas a única vez que eu ouvi falar das virtudes de um mensalão foi graças ao Erondy.