O melhor dos mundos

?O otimista acha que este é o melhor dos mundos. O pessimista tem certeza?, dizia o cientista Oppenheimer. Gianne era uma moça otimista. Nascida em Mamborê, no interior do Paraná, ela achava que o pequeno município de 14 mil habitantes era o melhor dos mundos, até desconfiar que não cabia mais naquele mundinho. Os pais eram pessimistas, choraram quando Gianne foi embora.

Gi – assim todos a tratam – chegou a Curitiba com uma pequena mala, um endereço e uma certa incerteza. O endereço era o de uma amiga de infância em Mamborê que estudava na capital, sobrevivendo com trabalhos temporários. Essa era a incerteza de Gianne: seria a cidade grande o melhor dos mundos?

Não era. Os primeiros meses mostraram o quanto dói a saudade daquele mundo deixado para trás; com cama, comida, roupa lavada e bastante afeto. O maior conforto era dividir esse novo mundo com a amiga de Mamborê que tinha uma amiga, que tinha mais uma amiga, que tinha outra amiga cheia de amigas que se encontravam uma vez por semana num bar no centro da cidade.

Esse mundinho feminino se reunia no bar da esquina, no mesmo prédio de pequenos apartamentos da minúscula república de Mamborê. Conheci Gianne no bar Ao Distinto Cavalheiro, ela com a amiga da amiga que tinha muitas amigas, todas muito bonitas. Não era a mais bonita; se fosse realizado um concurso de beleza entre elas, a pequena Gianne seria eleita miss simpatia. Não era namoradeira, era agregadora; tantas moças bonitas no seu entorno eram um mistério que até hoje os embevecidos rapazes do boteco tentam decifrar.

Esse era o mundinho de Gi – entre um emprego e outro, uma decepção e outra -, quando certo dia ela apareceu no bar com uma idéia fixa: aquele não era o melhor dos mundos. O melhor dos mundos, repetia a moça de Mamborê, se encontrava na Nova Zelândia.

Mais de um ano se passou, e aquele destino se tornou um assunto recorrente no mundinho do bar: ?Quando a Gi vai para a Nova Zelândia, em busca da felicidade??.

E não é que foi mesmo? Antes disso, uma longa novela: a família em Mamborê, mesmo pessimista, fazia economias para a passagem; o dinheiro dos trabalhos temporários não sobrava; como entrar na Nova Zelândia; e como arrumar trabalho no melhor dos mundos, sem falar inglês?

Compadecida, a turma do boteco tratou de fazer uma rifa em prol do destino da moça de Mamborê. Era outubro de 2005, a Casa da França doou uma cesta de Natal. No meio de dezembro os números estavam todos vendidos, somariam 500 dólares para as despesas da viagem, com uma condição: o dinheiro só seria entregue com a passagem marcada. No verão de 2006, Gi embarcou para Queenstown, sul da Nova Zelândia.

No fim da semana passada, a moça que atravessou os mares em busca do melhor dos mundos estava de volta, e com um noivo. O neozelandês chamado Glen, engenheiro elétrico que mora com a família em Perth, oeste da Austrália, onde o casal vai ter endereço próprio.

Na noite dessa terça-feira, Gi apresentou Glen para os amigos do boteco. O anel de brilhantes só não brilhava mais que o sorriso da noiva.

Gi está no melhor dos mundos.