É grave a crise. De tão grave, até as tainhas entraram em greve. No litoral de Santa Catarina, onde no lanço da rede as tainhas eram contadas aos milhares, desde a semana passada elas simplesmente cruzaram as barbatanas. Nem mesmo congeladas as tainhotas podem chegar à nossa mesa, pois até os caminhões frigoríficos estão parados.
Acabou-se o que era doce; quem comeu a ova arregalou-se. Para a infelicidade dos degustadores e pescadores da tainha, a temporada de pesca acaba no domingo, dia 15, quando os pescadores se reúnem no barracão para somar os prejuízos.A tainha costuma garantir a renda de inverno, mas, neste ano, alguns pescadores não capturaram nem o necessário para servir a mesa da família. Para os caiçaras, a tainha é o peixe chave do ano. Quando não dá, fica todo mundo de cabeça baixa, desanimado – conta o blog “Tainha na Rede”, de Florianópolis: “O desmanche do barracão simboliza o fim da temporada. Munidos de pás, martelos e pés de cabra, os homens colocam abaixo a estrutura erguida no final de abril, quando a promessa de uma safra farta trazia esperança e ânimo para o litoral”.
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Quando as tainhas cruzam as barbatanas, a greve no litoral também é sentida aqui no Mercado Municipal, onde o curitibano vai comprar o peixe com certificado de origem:
–Quero uma tainha ovada de Guaratuba!
O peixeiro lamenta:
–Sinto muito, doutor, tainha no Paraná tem sotaque catarina!
–Já não bastam essas moças de Curitiba que casam com catarinas, agora até as nossas tainhas se mudaram para Florianópolis?
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Como alguém disse no Mercado Municipal, nesse ano a tainha degringolou! Por coincidência, disse a mesma coisa que a primeira página do jornal francês Le Monde: “Dilma, la dégringolade”. Traduzindo para o português, a presidente Dilma está na mesma situação dos pescadores de tainha: jogando sua rede na tentativa de cercar cardumes graudos nesse mar que não está pra peixe, mas nem mesmo nas águas turvas do Congresso ela está conseguindo fisgar as piranhas de sempre. No samburá do governo, os pescadores de águas turvas só vão contar com os bagrinhos da casa, e olhe lá!