O Livro de Ouro da Sapolândia

Benzedeira, vidente e astróloga, Dona Flô da Sapolândia é conhecida e respeitada por poucos e bons curitibanos. Sem nunca ter errado qualquer prognóstico eleitoral, ela enxerga na bola de cristal um papel decisivo do Xaxim e Boqueirão nas próximas eleições.

“A Sapolândia é uma capitania hereditária” – diz dona Flô, abrindo suas cartas. “Quando João Claudio Derosso afirma que levanta a poeira e dá a volta por cima, convém lembrar que em 2001 a prefeitura investiu R$ 6,1 milhões em obras na Rua Desembargador Antônio de Paula, que atravessa o Boqueirão e Xaxim,justamente onde esse menino João Claudio tem uma chácara chamada Sapolândia”.

Ex- porta-bandeira da saudosa e inesquecível Escola de Samba Acadêmicos da Sapolândia, Dona Flô acha que o Xaxim e o Boqueirão sentem falta de um líder como o seu falecido afilhado Julio César Amaral de Souza, também conhecido como Julinho da Sapolândia, justamente fundador da escola que levava o povo dos dois bairros para a Marechal Deodoro.

Grande contador de histórias, Julinho gostava de imitar o carnavalesco Chocolate (Mansueden dos Santos Prudente, 1933-1984), fundador da também finada Escola de Samba Ideais do Ritmo. Numa de suas visitas com o “Livro de Ouro” embaixo do braço, Chocolate ia logo “mordendo” com o argumento de sempre:

– Morreu o Bentinho, passista dos bons. Preciso de sua assinatura no “Livro de Ouro” para ajudar no enterro.

O empresário abria o livro e o bolso, mas sorria no estilo “me engana que eu gosto”:

– Chocolate, em fevereiro tua escola não vai sair no Carnaval. Ou vai? – Vai. Por que não sairia?

– Ora, Chocô… esse é o 18º sambista que você enterra. E estamos ainda em maio!

Depois de soltar um suspiro saudoso em memória dos amigos carnavalescos, Dona Flor da Sapolândia volta a embaralhar as cartas, dá uma piscadinha marota e encerra o assunto por aí mesmo:

– Não menosprezem o “Livro de Ouro” do Derosso!