O Kaliempa do Alto da Glória

Dizem os especialistas que o Coritiba se mantém na ponta da tabela graças ao talento de Alex, o milagreiro do Alto da Glória. Apesar dos pesares, depois dos coxas desperdiçarem cinco pontos em casa é preciso tirar o boné alviverde para o goleiro Vanderlei. Outro milagreiro muito lembrado nas novenas do padre Parron na igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

No bar do Popadiuk já estão comparando o Vanderlei com o goleiro Kaliempa, a lenda viva no futebol suburbano do Bigorrilho. O que não é pouco, sabendo-se que, no Popadiuk, um dos poucos a merecer aplausos foi o papa polaco. Este argentino ainda está no período comprobatório.

Antes da especulação imobiliária que engoliu o bairro, sete entre dez moradores do Bigorrilho eram polacos; dois eram ucranianos e um italiano. Todos fanáticos torcedores do União Bigorrilho, cujo campo se situava junto a um barranco que se fazia de arquibancada. Foi do alto daquele barranco que Kaliempa decolou para a história do campeonato suburbano. Goleiro reserva, só o velho Tchenco, dono da bola e do campo, não enxergava o talento daquele polaco de cabelo esguio e “um raio de rápido”.

Numa melhor de três, valendo churrasco e cervejada, contra o Botafogo das Mercês, o legendário campeão do centenário de Curitiba, o titular goleiro Vanha, tinha engolido dois frangos na primeira partida, no campo do Botafogo. No jogo de volta, em casa, a torcida do Bigorrilho se embandeirou, disposta à guerra. Assim que o time do velho Tchenco entrou em campo, os protestos dispararam do barranco e atingiram os ouvidos do dono do time, da bola e do campo:

– Bota Kaliempa na arco! Bota Kaliempa na arco, Tchenco!!!

Kaliempa entrou. Entrou e fechou o arco. Um a zero para o União Bigorrilho. Graças ao Kaliempa, que era um raio de rápido e fechou o gol. 

Do alto do barranco, a torcida delirava:

– Cóm Kaliempa na arco, nie rato escapa!!!

Kaliempa tornou-se ídolo no Bigorrilho, virou lenda e a frase ainda hoje é repetida nos botecos do Bigorrilho:

– Cóm Kaliempa na arco, nie rato escapa!!!

Desde piá, Kaliempa era um polaquinho “fominha” de bola. Num descampado nos fundos de sua casa, era ali que a piazada corria atrás da bola. Sem traves, na falta das balizas de ripa improvisavam com as bostas das vaquinhas: duas bostas num lado, duas bostas no outro. Quando a bola batia na trave, era bosta pra tudo quanto era lado. Kaliempa voltava pra casa cheirando estrume, que ele era o goleiro que “nie rato escapa”.

Alguém precisa levar o goleiro Vanderlei para comer um rollmops lá no Bar do Popadiuk. Será a consagração do Kaliempa do Alto da Glória: “Com Vanderlei na arco nie rato escapa!”.