Emilinha Borba é agora um esmaecido retrato nas capas de discos dos colecionadores. Mas muita saudade ainda resta da cantora que parou Curitiba no final dos anos 1950. Estraçalhou corações e as cordas vocais do mar de gente que recebeu a “Rainha do Rádio” cantando “Chiquita Bacana”.

continua após a publicidade

Em nome da Rádio Guairacá, um jovem esguio e sedutor foi enviado para fazer as honras da casa. João Féder foi o agraciado. Ou melhor, o bem-aventurado que recebeu a rainha no aeroporto.

Foram dois dias frenéticos para aquele moço sempre elegante que começou sua carreira como discotecário da Guairacá, chegando a professor de Jornalismo, conselheiro do Tribunal de Contas do Paraná, fundador desta Tribuna do Paraná e, como se fosse pouco, idealizador em 1959 das seis edições do “Tribunascope”, festival internacional de cinema realizado no saudoso Cine Ópera, na então iluminada Cinelândia (Avenida Luiz Xavier), com a presença de artistas como Janet Leight, Karl Malden e Tony Perkins, que ali estiveram em abril de 1964, ao lado de outros nomes conhecidos do cinema nacional e estrangeiro.

Foi uma missão de causar inveja, e muito causou, quando Emilinha chegou ao Aeroporto Afonso Pena. João Féder estava a esperá-la, ao pé da escada e sob as asas de um avião da Panair. Do aeroporto, a “Favorita da Marinha” foi conduzida ao Hotel Iguaçu a bordo de um reluzente Impala bege, ano 1956, comprado por Féder num leilão da Embaixada Americana. O Impala, meninos, era avô milionário dos atuais carros de luxo.

continua após a publicidade

Quem diria, a carioca Emília Savana da Silva Borba, nascida em 31 de agosto de 1923, depois de passar grande parte da infância no bairro da Mangueira, foi brilhar na Praça Tiradentes. Onde hoje é o Banco do Brasil, armou-se o palco dos mais altos, para não perder de vista a multidão que se esparramava pela Barão do Serro Azul. Olhando da Catedral, gente que só Deus sabia quanto. A voz de Emilinha alcançava o Largo da Ordem; o violão do nosso Zé Pequeno também. Depois dos bises da praça, Emilinha foi bisar o show no Chá Dançante da Engenharia, na Sociedade Duque de Caxias, transmitido ao vivo pelos 10 kW na antena da Rádio Guairacá.

Enquanto isso, o Impala 1956 aguardava a cinderela, que partiu do baile em torno de duas horas da manhã. João Féder não tinha como lembrar se naquela noite caía neve. Mas bem lembrava que quase caiu do céu, quando a rainha o convidou para jantar na suíte do hotel Iguaçu, hoje hotel Bourbon, longe daquele histérico mundo que ainda restava na calçada da fama de Curitiba.

continua após a publicidade

O cardápio veio a bordo do Impala 1956, especialmente encomendado ao Café e Bar Palácio: “Churrasco paranaense”, “Filé grisê”, saladas, farofa de ovos e, de sobremesa, “Mineiro de botas”.

Sim! O vinho era um Chianti de palhinha, em honra à rainha.