Pela segunda vez o Teatro Guaíra está em chamas. Primeiro foi o incêndio de 1970, quando o grande Auditório Bento Munhoz da Rocha Netto, prestes a ser inaugurado, precisou de mais quatro anos a se reerguer das cinzas. Depois do fogo, a frieza com que os últimos governos têm tratado um dos símbolos do Paraná moderno. Além de quase paralisado por falta de um orçamento condigno, o Guaíra agora pode ser transformado numa dessas Organizações Sociais (OSs), associações privadas sem fins lucrativos que firmam contrato de gestão com o governo.

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Dos mais respeitados profissionais de teatro, o escritor, ator e diretor Enéas Lour veio à boca de cena para pedir socorro em nome do bom senso que ainda se espera existir nos bastidores do poder. O texto a seguir, postado no facebook por Enéas, serviu de mote para uma manifestação da classe teatral que será realizada neste sábado às 12 horas, em frente ao Teatro Guaíra.

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“Conheço e atuo no Teatro Guaíra desde 1974 e ali eu e a minha geração de atores, diretores, dramaturgos, músicos, cenógrafos, bailarinos, figurinistas e iluminadores encontrávamos um espaço de convívio, de troca de experiências e de liberdade de atuação. As dependências do Teatro Guaíra nas décadas de 70 ao início dos 90 foram a “nossa casa”. Ali, na cantina, na carpintaria, nas salas de ensaios, nos palcos e nos corredores daquele grande edifício nos sentíamos livres e criamos muitos projetos, muitos espetáculos. Tínhamos acesso e conhecíamos cada palmo do teatro, conhecíamos todos os funcionários, os técnicos que ali trabalhavam conosco. Havia um movimento constante, diuturno, pulsante que impulsionava a criação cênica de todos que ali conviviam. Era um Centro Cultural. Além das produções independentes, dos grupos, as montagens oficiais do Teatro de Comédias do Paraná (TCP) reuniam a classe artística num eixo de proposições, discussões e experimentações cênicas. 

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Desde que foi transformado em autarquia numa das gestões do ex-governador Roberto Requião, a antiga Fundação Teatro Guaíra vem definhando, ano a ano, sob a regência de vários diretores que, cada vez mais, veem aumentados os entraves burocráticos e diminuídos os orçamentos para sua atuação. Aliada ao descaso dos sucessivos governos estaduais com a área cultural, a ausência de uma Política Cultural que valorize o artista local, que priorize uma atuação voltada à produção de qualidade e vinculada à classe artística tem sido a causa do definhamento do Teatro Guaíra.Não sei se a solução dos problemas do Teatro Guaíra é a gestão feita por Organizações Sociais (OSs), associações privadas sem fins lucrativos que firmam um contrato de gestão com o governo do estado. Sei, sim, que alguma coisa tem que ser feita, e com urgência, para que o Teatro Guaíra seja, novamente, importante para o artista e para o povo paranaense”. (Enéas Lour)