O grande Marinheiro

Daqui deste modesto bordo, na quarta-feira de cinza nossa reverência à memória de João Baptista Moraes, um dos fundadores desta Tribuna, o homem da boca do caixa e do vale. Portanto, temido e respeitado. Não o conheci como gostaria, mas dele os velhos amigos guardam muitas histórias e, no que diz respeito ao caixa, muitas lendas.

Numa delas corriam os anos 60, quando o colunista Coelho Júnior foi se socorrer com o comandante das finanças:

– Moraes, preciso de um vale urgente! Temos aí uma “graminha”?

– Tenho, Coelho! Mas também tenho uma observação pra fazer: na tua coluna de hoje encontrei dois erros de concordância e 3 de sintaxe!

E nada mais disse Moraes e nada mais também comentou Coelho Júnior. Passada a semana, voltou Coelho Júnior à boca do caixa, como de rotina:

– Moraes, antes de qualquer coisa, quero lhe dizer que naquela coluna da semana passada encontrei os dois erros de concordância. Quanto aos três erros de sintaxe, só encontrei dois.

Moraes botou a “graminha” do Coelho Júnior no envelope e completou:

– Ô, Coelho… não li a tua coluna e nem tenho tempo pra isso. Passe bem!

Sempre bem humorado, dos tantos prazeres da vida João Baptista Moraes era um fiel súdito do Momo. Caía na folia numa única noite do tríduo, perfeitamente vestido de marinheiro e no bloco do “eu sozinho”, na Sociedade Água Verde. Com o devido alvará da esposa, ressalte-se. Assim despido da fantasia de gerente financeiro, num dos velhos carnavais realizou a façanha de ser preso quatro vezes numa mesma noite de folia.

Estavam os redatores da Tribuna do Paraná fechando mais uma grande edição carnavalesca, quando um delegado adentra a redação:

– Estamos com um sujeito vestido de marinheiro preso lá no plantão que se diz diretor da Tribuna. Confere?

Conferia e um dos jornalistas atravessou a rua, que a delegacia era em frente, para tirar o marinheiro da borrasca. E liberaram o marujo.

Horas mais tarde, telefonam de outra delegacia:

– Acabamos de prender um marinheiro que estava adernando no salão. Ele se diz diretor da Tribuna, confere?

Conferia. E, numa outra colher-de-chá, soltaram as amarras do marinheiro.

Só que, desta vez, o marinheiro resolveu dar o troco. Na esquina da delegacia, topou com um guarda gozador, que ousou fazer marola na cara do marujo. Como não era de primeira viagem, o marinheiro enfiou o braço no atrevido e, outra vez, teve que voltar ao cais da delegacia.

Fazendo as contas: uma, duas, três vezes preso. Na quarta prisão, o marinheiro Moraes foi escoltado pelo jornalista de plantão até sua própria casa, onde ficou sob a guarda da patroa, enquanto ainda restasse algum cheiro de lança-perfume no ar.

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