O golfinho, o camarão e o Jaguara

Jaguara, o animador de Velórios dos Campos Gerais, está de férias. Encontrei o baita comprando frutos do mar no Mercado Público de Itajaí, muito bem acompanhado por uma bela galega que me foi apresentada como bióloga marinha. Para evitar constrangimentos, não perguntei o paradeiro da patroa.

-Para não morrer pela boca, nada melhor do que ter ao lado uma especialista. Inclusive, acerca dos hábitos e costumes dos animais marinhos. Poucos sabem, mas o primeiro contato do golfinho com o homem ocorreu aqui em Santa Catarina.

– Aqui em Itajaí? – perguntei.

– Não se sabe o ponto exato. Mas foi em algum ponto entre Itajaí e Florianópolis.  Estava o açoriano tarrafeando muito além da arrebentação, quando emergiu junto à canoa um raro golfinho azul.O pescador nunca tinha visto golfinho; o golfinho nunca tinha visto o caiçara. Um ficou olhando pro outro, sem saber o que dizer. De repente, o pescador embevecido soltou a famosa interjeição típica dos açorianos do litoral de Santa Catarina, que pode expressar alegria, aplauso, decepção, irritação e vale por mil palavras: “Ê-ê-ê-ê-ê-ê-ê-ê!”.

Para quem ainda não ouviu, a interjeição do caiçara tem som agudo vindo direto da garganta, com o acento circunflexo bem caprichado.

– Depois desse primeiro encontro entre golfinho azul e o ser humano, até hoje a família dos botos se manifesta com a mesma expressão dos caiçaras – ensina o Jaguara, depois de arrematar mais uma caipirinha com a bióloga. Isso demonstra que a natureza é sábia. Se aquele golfinho azul tivesse conhecido antes o pescador de Florianópolis, a expressão dos botos seria a mesma dos manezinhos da ilha: “Lhó, lhó, lhó, lhó!”.

Depois de encher a sacola com frutos do mar para uma boa caldeirada, o Jaguara e a bióloga se despediram com uma última lição:

– Você sabe por que os melhores camarões vêm de Santa Catarina? Eles têm a casca grossa de Lages, o rabo bonito da Vera Fischer, são frescos porque nascem em Laguna e têm merda na cabeça porque, atualmente, isso é o que mais jogamos no mar.