Depois que o vice-presidente José Alencar foi canonizado, na região de União da Vitória tem gente querendo beatificar ainda em vida o deputado Valdir Rossoni. Que José de Alencar esteja sentado à direita Dele. Mas quanto a Rossoni, em que pesem suas boas intenções, infelizmente não vai conseguir botar a Assembleia Legislativa no bom caminho.

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 Falta ao presidente da Assembleia seguir o exemplo de Henry Ford, que em 1914 implantou na Ford Motor Company um departamento para fiscalizar funcionários relapsos que faltavam ao trabalho e, quando compareciam, não faziam por merecer o incrível salário de “cinco horas por dia de oito horas”, a remuneração que abalou as placas tectônicas do capitalismo mundial.

Então um dos homens mais admirados do mundo e “símbolo internacional da nova industrialização”, para quem “a massa nunca se eleva ao padrão do seu melhor membro; pelo contrário, degrada-se ao nível do pior”, Henry Ford constatou que os altos salários não eram suficientes para garantir eficiência ou responsabilidade individual no chão da fábrica. Um salário melhor (cinco dólares era quase o dobro do padrão industrial médio) podia levar o trabalhador à preguiça, a uma dissipação mais rápida através do jogo, bebidas ou mulheres de vida airosa. Havia em Detroit mais bordeis que igrejas e os trabalhadores batiam o ponto nas casas de apostas, bares e antros de ópio.

Com o pecado morando ao lado da fábrica, Henry Ford condicionou seu plano do Dia de Cinco Dólares à obrigação dos trabalhadores de levar uma vida saudável e comportada. E, para acompanhar a vida privada de todos, Ford criou o Departamento Sociológico da empresa, com a função de fiscalizar os detalhes mais íntimos dos funcionários, inclusive sua vida sexual.

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O Departamento Sociológico empregava centenas de agentes bisbilhoteiros, encarregados de fazer relatórios pessoais do funcionalismo. Como gastavam seu dinheiro e seu tempo livre? Eles tinham contas bancárias? Quantas dívidas tinham? Gastavam mais do que ganhavam? De onde vinham os sinais exteriores de riqueza? Quantas dívidas tinham? Enviavam dinheiro para a família? Os filhos estudavam? A família passava fome? Bebiam? Fumavam? Eram casados quantas vezes? Tinham amantes?  

Sociólogos iam às casas dos funcionários entrevistar familiares, amigos e conhecidos para assegurar que os relatórios prévios de probidade eram exatos e, se naquela época não tinham o disque-denúncia, os mexericos dos vizinhos eram muito bem-vindos.

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Por certo, com um Departamento Sociológico dentro da Assembleia Legislativa o deputado Valdir Rossoni não seria canonizado por seus funcionários. Mas passaria a ser conhecido como o Ford de Bituruna.