No Teatro do Paiol, o poeta e compositor Paulo Vítola tonou-se imortal na noite desta segunda-feira. Lá fora, a moça do tempo nos diria que a sensação térmica seria justamente aquela que estigmatizou a cidade como “Curitiba, a Fria”. Lá dentro, uma conjunção de talentos aqueceu a pequena arena do coração curitibano.

continua após a publicidade

Saudado com um dos sempre memoráveis discursos do mestre René Dotti e tendo os seus versos interpretados por um punhado de parceiros, o “usineiro de sonhos” Paulo Vítola contou com poesia, como não podia deixar de ser, porque chegou à Academia Paranaense de Letras graças a dois Vicentes.

O primeiro Vicente chama-se Vicente Machado, governador do Paraná e patrono da Cadeira 25 que acabara de tomar posse. O segundo era seu bisavô, Vicenzo Vitola, um bravo italiano que chegou no Rio de Janeiro em 1898. Um nascido em Francavilla sul Sinni, no sul da Itália, e o outro em Castro, nos Campos Gerais. À primeira vista, só mesmo a poesia de Paulo Francisco de Souza Vítola poderia promover o encontro entre os dois Vicentes. “Mas – lembrou o poeta – a vida é um evento bem mais caprichoso do que qualquer humana fantasia”.

O Vicente Vítola, que retornou à Itália, trouxe dois filhos para o Brasil: Brás, que ficou para sempre em Macaé (RJ) e Felipe, que achou seu destino em uma caixa de fósforos: “Juntou a caixinha, leu no rótulo o nome da cidade em que aqueles fósforos eram fabricados e decidiu mudar-se para lá. Quer dizer, para cá, pois o nome da cidade era Curitiba”.

continua após a publicidade

Felipe chegou a Curitiba com 21 anos. Tornou-se professor do colégio Bom Jesus e casou com uma moça chamada Elisa Vitorasso e os dois foram morar em uma casa verde, com lambrequins, na rua Coronel Dulcídio quase esquina com…Vicente Machado.

Nessa época, o antoninense Theobaldo Souza trabalhava num loja de tecidos na rua XV de Novembro, pertencente a Francisco Peixoto, pai de uma moça chamada Laura: “Em 1920, Theobaldo Souza e Laura Peixoto casaram e foram morar em uma casa de dois pavimentos em que nasceram e cresceram seus filhos: Rachel, Nelson, Valderez, Maria Helena e Roberto – todos, Peixoto de Souza”. 

continua após a publicidade

A casa ficava entre a Visconde de Nácar e a Visconde do Rio Branco, na Carlos de Carvalho, rua paralela à… Vicente Machado.

“Na casa verde da Coronel Dulcídio, Felipe e Elisa Vítola foram mais prolíficos. Viram nascer onze filhos: Felipe, João, Vicente, Joana, Pedro Paulo, Maria de Lourdes, Anttonio, Edmundo, Rosa, Matilde e Edgar. O curioso é que, para conhecer e namorar minha mãe, Rachel Peixoto de Souza, meu pai, Felipe Vítola Júnior, dirigia-se à casa dela, descendo a… Vicente Machado. Portanto, já estou quase convencido que nasci graças a Vicente Machado”. 

Paulinho Vítola passou a infância na casa dos avós maternos, indo e vindo pela rua que o levou ao cinema e ao futebol, à primeira fantasia e à primeira biblioteca, a Vicente Machado que o fez chegar à presidência da Rádio e Televisão Educativa e à Academia Paranaense de Letras.