O cientista político cientista Tadeusz Nulowski acaba de escrever um interessante estudo a ser apresentado no próximo Congresso da Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa e Opinião Pública: “Candidato e eleitor, quando ambos os dois são fichas sujas”.  Nulowski, mundialmente conhecido por sua tese de que o voto nulo é um legítimo instrumento de defesa, pretende demonstrar que em muitas ocasiões o eleitor também pode ser um “ficha suja”. Entre inúmeros exemplos, o cientista político enumera: 1) quando o elemento frequenta as linguiçadas de determinado candidato, promete o voto em troca de uma cerveja e, mesmo assim, vota contra. 2) Quando a eleitora participa efusivamente do chá das cinco promovido por uma candidata da alta sociedade, recebe mimos e paparicos das grã-finas e, mesmo assim, vota contra.

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O mais interessante da tese de Tadeusz Nulowski refere-se à analogia entre as cervejas e os candidatos de ficha suja. Principalmente no Brasil, tanto os políticos quanto as cervejas são engarrafados como se fossem de comprovada pureza. “É uma falácia”, acusa Nulowski: “As cervejas brasileiras contêm mais milho do que o permitido em suas composições. E a maioria dos candidatos vem com o rabo mais preso do que se imagina”.

Na Alemanha, a lei diz que as cervejas só podem ter três ingredientes: água, cevada e lúpulo. Sem conservantes, ou os chamados “adjuntos”, ou cereais substitutos que não sejam a cevada. O malte com o qual a cerveja é produzida só pode ser obtido pela cevada.  Aqui no Brasil, no entanto, parte do malte pode ser substituído por outros cereais, como por exemplo arroz ou milho. Uma cerveja sem malte de cevada ainda é uma cerveja, porém, se o cereal tiver sido o milho, é um refrigerante com inúmeras vantagens financeiras para engarrafador.

Com os políticos, o processo de engarrafamento do eleitor é o mesmo. Pela lei, os candidatos só podem ter três ingredientes: honestidade, caráter e vergonha na cara. Sem o rabo preso e a ambição desmesurada. No entanto, eles vão para a televisão como se fossem puros por natureza e sem as inúmeras falcatruas disfarçadas no rótulo.

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Para o ex-chanceler alemão Otto von Bismark, “ainda bem que o povo não sabe como são feitas as linguiças e as Leis”. Tadeusz Nulowski, profundo conhecedor dos hábitos germânicos, vai mais longe: “Ainda bem que os brasileiros não sabem como são feitos nossos legisladores, nossos salaminhos e nossas cervejas”.