O Drag

Confirmado: conforme já revelamos, um monstro está atacando na Baía de Paranaguá, atingindo com a sua fúria o Canal da Galheta, os portos, a Ilha do Mel, Guaraqueçaba e Antonina. Sabe-se que a fera espanca pescadores, estivadores e criancinhas indefesas. É o Dragão da Galheta, como agora foi reconhecido.

Quem primeiro viu as fuças do monstro foi um casal de turistas de São Paulo que estava em lua-de-mel na Ilha do Mel. “Ôrra, meu! O bicho é feio mesmo!”, declarou o rapaz. “Ô, meu! E ele não é um monstro qualquer: é um dragão de verdade!”, comentou a moça. E não foi só o casal paulista que testemunhou o ataque da fera, enquanto passeavam na Praia das Encantadas. Esses viram o bicho de longe. Pior sorte teve um casal de namorados gays da Argentina, absurdamente espancados pela besta nas proximidades de um camping da Praia do Farol. Segundo o depoimento dos gringos, é um monstro da melhor tradição monstruosa, com características semelhantes ao Monstro de Cananéia que surgiu no litoral do Paraná no século XVIII, já descrito pelo historiador Vieira dos Santos. Esse Dragão da Cananéia, como já contamos aqui, foi morto em 1733 por uma bala que saiu do bacamarte de um tal de Pedro Tavares. Os dois argentinos fizeram um retrato falado do monstro, tal e qual registrou Vieira dos Santos: “Tem um corpo e cabeça de touro; só a cabeça mede 80 centímetros de comprimento por metro e meio de largura.

O pescoço, repleto de glândulas encarnadas; a testa, com crinas crespas; as orelhas, escarlate; os olhos, pretos e redondos; as ventas, do tamanho de um punho; a boca rasgada; os beiços grossos; a barba também grossa na queixada; os dentes largos, unidos e cortantes; a língua redonda e as pernas, medindo um metro. Cada dedo mede vinte centímetros, e a cauda, um metro. Os pêlos são curtos e castanhos; gritava como lobo as grossas escamas fedem mais que um gambá!”.

Tanto o casal paulista quanto os dois argentinos, que também lá se encontravam em lua-de-mel, comentaram reservadamente que os órgão genitais do dragão são de impressionar. “Muy rico!”, confessou um dos argentinos, de olhos arregalados. De fato. Ao descrever as partes íntimas do monstro, iguais aos dos homens, Vieira dos Santos escreveu em latim para não ferir o decoro da época: “Immodice longum… genitale homini simili”.

“E a feliz Dona Monstra, por onde andava?”, perguntaram aos argentinos. Eles responderam que ninguém viu Dona Monstra por perto. No entanto, um biólogo marinho que estava na Ilha do Mel assegurou que, muito provavelmente, o dragão está na Baía de Paranaguá atrás de uma fêmea. Neste caso, disse ainda o biólogo, o perigo é o Dragão se apaixonar pela Draga: a própria draga que a diretoria do Porto de Paranaguá (Appa) quer trazer para uma dragagem de emergência no Canal da Galheta.

O relatório que o biólogo marinho entregou à Capitania dos Portos aponta o Canal da Galheta como um viveiro perfeito para monstros da melhor tradição monstruosa, iguais a este justamente denominado Dragão da Galheta.

Diz o biólogo: “A largura do canal diminuiu para 37 metros, um pouco maior do que a base de um navio de porte médio. O lodo acumulado baixou o calado dos navios, que era de 11,30 metros, para míseros 9,90 metros. Como a altura do Dragão é de exatamente 10 metros, a fera pode se locomover pela Baía de Paranaguá com a maior facilidade, sem nem mesmo precisar nadar. E ainda fica com os olhos de fora para perseguir as vítimas indefesas. Se não dragarem o canal imediatamente, o Dragão da Galheta com certeza vai deixar o Porto de Paranaguá sem condições de trabalho.

O Porto de Antonina o monstro já atacou, deixando todo mundo aterrorizado, sem ter o que fazer”. Agora o grande perigo, ressaltou o biólogo, é o Dragão se apaixonar pela Draga. Desse acasalamento pode nascer dezenas de monstrinhos, uma prole fatal para as nossas exportações. E 30 milhões de toneladas de soja vão para a barriga da Família Monstro.dan