O Diabo acompanha cada um de nós, é o que revela o escritor Norman Mailer na biografia de Adolf Hitler, “O castelo na floresta”. Do ato sexual que lhe originou, aos vícios familiares que teriam causado tamanha monstruosidade. No relato deliciosamente sinistro, Mailer teve como co-autor o próprio Demônio. Um Capeta com a capacidade de registrar os pensamentos do personagem e intervir em pequenos atos do cotidiano que explicam acontecimentos futuros.

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Através do ovo da serpente, Norman Mailer constatou que cada um de nós tem um Anjo da Guarda e, o que é assustador, um Diabo da Guarda. Dos milhares e milhares de Belzebus inscritos nas fileiras do Inferno, um deles está em nossas costas influenciando nossas ações para o mal. Desses Arrenegados não temos como escapar. Por isso desconheça o Diabo dos outros, preocupe-se com o seu.

O Lúcifer encarregado pelos maiorais do Inferno para acompanhar a vida de Adolf Hitler era um Satanás com doutorado em Ciências Políticas, como o próprio confessa: “Encorajei operários e camponeses que pareciam agitar revoluções, mas que se tornaram corruptos”. É com certa parcimônia que o Príncipe das Trevas lança mão de seus maiores gênios do mal para agir no atacado, como foi o caso do nazismo. Por ter bilhões de faces e milhões de nomes, cada um deles encarregado de cada um de nós, no dia a dia o Diabo ataca no varejo.

Sabidos de velhos, dentro da estrutura do Inferno os Malignos obedecem uma rígida hierarquia. No atacado só agem os maganos da nobiliarquia das Trevas: Nosferatur, Lúcifer, Satã, Capeta, Satanás, Belzebu, Asmodeu, Azazale, Cadreel, Mastema, Asasel, Mefistófoles e outros Demônios do colarinho branco. No varejo atacam os Pobres-Diabos, bestas nascidas dos extratos mais baixos da sociedade do Mal: Tinhoso, Badanho, Bode Velho, Capiroto, Cramulhão, Encardido, Ferra brás, Pé-de-Cabra, Arrenegado, Sete Pelos, Tranca Rua e outros infindáveis nomes de nascidos na sarjeta do Inferno.

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Ah… os Pobres-Diabos! Aos Demônios da alta hierarquia são reservadas as grandes missões no atacado. Exemplo maior foi na “Tentação de Cristo”, quando Ele jejuou por quarenta dias e quarenta noites e, durante o sacrifício, Lúcifer foi enviado inutilmente para tentá-lo. Desde então, o Alto Comissariado do Mal tem por princípio escalar os pobres Diabos para atacar no varejo e vencer no atacado.

Ah… os Pobres-Diabos! A eles foram designadas as operações anônimas no dia-a-dia. As tarefas malsãs a domicílio, no ônibus lotado, na mesa de trabalho e na mesa do bar. A estes Pobres-Diabos restou a tarefa de vigiar o cotidiano das tantas criaturas que estão no livro “O Diabo ataca no varejo” – coletânea de crônicas que, se Deus quiser, devo lançar na próxima terça-feira no tradicional Bar Stuart. Ao lado do meu Anjo da Guarda – que se chama Maí Nascimento Mendonça -, aguardo os amigos e leitores para um forte abraço.

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Com 61 crônicas já publicadas nesta Tribuna e na Gazeta do Povo, “O Diabo ataca no varejo” tem a orelha Do escritor Domingos Pellegrini, que virá especialmente de Londrina para o lançamento. Anote na agenda: terça-feira, 18 de novembro, no tradicional Bar Stuart, onde a Praça Osório faz esquina com a Alameda Cabral. Começa às 17 horas e estende a “happy hour” até as 22. O livro custa R$ 35.