O conclave de Brasília

Daria para imaginar um conclave em Brasília para eleger o presidente da República? Daria! Inclusive o local do claustro, pois que temos também Capelas Sistinas de rara beleza. Não aquela dos afrescos de Michelangelo, mas num dos palácios da lavra de Oscar Niemeyer.

Trancados a sete chaves – o que seria desnecessário, devido a experiências de muitos em estabelecimentos prisionais -, nossos senadores reencenariam a eleição do papa espanhol Alexandre VI, nascido Rodrigo de Borja y Borja, um santo homem que teria cometido seu primeiro assassinato aos 12 anos de idade.    

Quando o papa Inocêncio VII morreu, em 1492, o cardeal Della Rovere era o favorito para assumir. Mas Rodrigo Bórgia havia sido o vice chanceler da Santa Sé sob quatro papas e, nessa função, havia se tornado imensamente rico. Os subornos que ofereceu eram assombrosos. Bórgia concedia ricas abadias, luxuosas vilas e cidades inteiras para assegurar o voto de um cardeal.  

Está no livro “A vida sexual dos papas”, de Nigel Cawthorne: com os cardeais incomunicáveis, os mensageiros eram os cozinheiros do Vaticano. As ofertas de suborno vinham dentro dos assados e voltavam com as garrafas de vinho. Durante cinco dias do conclave, Rodrigo usou a promessa de ricas nomeações para vencer a eleição. Alguns cardeais desejavam palácios; outros castelos, terra ou dinheiro. O cardeal Orsini vendeu seu voto pelos castelos de Monticelli e Sariani. O cardeal Ascânio Sforza desejava quatro mulas carregadas de prata e a lucrativa chancelaria da Igreja para assegurar o seu voto. O cardeal Colonna conseguiu a rica abadia de São Benedito, com seus domínios e direitos de clientela, para si e sua família, em perpetuidade. Um cartório, enfim. O cardeal de Santo Ângelo queria o bispado do Porto, o seu castelo e uma adega cheia de vinho.

Um eleitor modesto foi o cardeal Gherardo de Veneza. Ele tinha 95 anos e estava senil. Naquela época em que o afrodisíaco mais em uso era ostras, tudo o que o velhinho safado desejava eram 5.000 coroas (uma ninharia, para os demais) e uma noite ao lado da filha de Rodrigo, a adorável Lucrecia Bórgia, de 12 anos de idade. Nada mais, nada menos. O trato foi feito e, com o voto de 22 cardeais em seu bolso – com documentos passados pelos cozinheiros do conclave -, Rodrigo Bórgia foi proclamado o papa Alexandre VI, de 1492 a 1503.

Quando as boas novas de Pedro Álvares Cabral chegaram ao Vaticano, a Terra Brasilis foi abençoada por Rodrigo Bórgia. Assim, provado está, o Brasil já nasceu sob o signo da corrupção.