O começo do roubo organizado

A pilhagem aos cofres públicos no Brasil é ampla, geral e irrestrita, porque os partidos políticos só sobrevivem no poder sendo autossustentáveis através da corrupção. Sem nenhuma exceção. Embora os bem intencionados se justifiquem, com o argumento de que a lei é para os fracos e desprovidos de poder, sendo tolerável passar por cima da ética e da moralidade se existir um fim mais elevado.

A questão do financiamento dos partidos políticos no Brasil se parece com a extrema penúria do exército de Napoleão Bonaparte quando invadiu a Itália, em 1796. Muitos de seus 42 mil soldados marchavam sem sapatos e se vestiam com trapos roubados dos camponeses locais. Sem recursos, a estratégia de Napoleão para vencer a guerra era tornar o seu exército autossustentável. Assim como abrir as grades do zoológico para que as feras se autossustentem.

Num discurso aos seus comandados, antes de atravessar os Alpes, Napoleão declarou: “Soldados, estais mal alimentados e quase nus. Cheguei para vos liderar rumo às planícies mais férteis do mundo, onde descobrireis grandes cidades e ricas províncias; ali encontrareis honra, glória e riquezas”.

O general cumpriu o prometido e a soldadesca chegou ao paraíso com um sistema de pilhagem altamente organizado. Ele começou por aumentar o soldo atrasado de seus homens com uma elevada taxa de libertação em cada estado, cidade e principado invadido. Os franceses também elevaram o roubo de obras de arte a um nível até então incomparável: Napoleão tinha especialistas qualificados para avaliar que pinturas os soldados deviam roubar. Telas famosas de Ticiano, Rafael, Rubens e Leonardo da Vinci foram enviadas ao Museu do Louvre. Em cidades incapazes de fornecer obras de arte, joias, dinheiro e ouro deixaram os soldados de Napoleão com uma vida de nababos. Se antes passavam fome, agora os achacadores exigiam as melhores carnes e os melhores vinhos da Toscana. Tinham mais dinheiro do que podiam gastar.

Os partidos políticos no Brasil aprenderam tudo o que sabem com Napoleão Bonaparte. Não com o Código Napoleônico – o código civil francês que regulamenta, entre outras coisas, os bens e a aquisição de propriedades -, mas com os métodos de dominar o poder de forma autossustentável.