O cineasta e a ninfeta

Preso na Suíça, por ter mantido “relações sexuais ilegais” com uma adolescente de 13 anos nos Estados Unidos, Roman Polanski está recebendo apoio de artistas do mundo artístico e, como não podemos nos omitir, de Curitiba partiu sentimento solidário da “primeira ninfeta” do cineasta.

“A professora Okasana Boruszenko foi a primeira ninfeta de Roman Polanski”, tachou o colunista Aramis Millarch nos idos de 70. Interpelado pela amiga, Millarch respondeu:

– Ora, Oksana, isso devia constar no teu belo currículo.

A marota revelação de Aramis tinha fundamento e o folclore que acompanha Boruszenko vem de suas origens. Com os pais ucranianos e nascida em Varsóvia (Polônia) por mero acidente geográfico (ali estava o hospital mais próximo), em 1942 as famílias Boruszenko e Polanski moraram juntas durante a guerra, na Polônia. Era um apartamento de quatro quartos, uma cozinha e um banheiro, onde 26 pessoas faziam fila na porta com uma toalhinha no pescoço, enquanto na cozinha as mulheres brigavam por uma panela, ou pelo uso escasso do forno para fazer pão com cascas de batata. Roman Polanski, nascido em 1933, tinha então nove anos e Oksana tenros três aninhos de idade.

Por suposto, a professora hoje aposentada da UFPR recorda pouquíssima coisa desse tempo em que dividiu fraldas e teto com o cineasta nascido em Paris com o nome de Rajmund Liebling, filho dos judeus Ryszard Polanski (também conhecido por Ryszard Liebling), e Bula Polanski. Dessa convivência Oksana lembra de muito pouco: da guerra, através dos cadáveres boiando no rio, e do pão feito com cascas de batata. A historiadora Oksana Boruszenko, “Doutora nota 10” em Munique e cidadã honorária do Canadá, lembra ainda que dois irmãos Polanski abrigavam a família naquele típico apartamento soviético comunitário: um era médico, o pai de Roman, e o outro engenheiro, ambos com a intenção de emigrar para a Argentina. O engenheiro, de fato, no pós-guerra foi para a Argentina. O médico restou na Europa. Apesar de ter perdido a mãe num campo de concentração, o menino Polanski teve melhor sorte: conseguiu evitar a prisão e o envio aos campos escapando do Gueto de Varsóvia, e passou a Segunda Guerra Mundial em fuga permanente, de um lugar para o outro. Ao final da guerra estudou na Polônia, tendo concluído estudos na escola de cinema de Lódz, em 1959.

O engenheiro Pavlo (Paulo) Boruszenko não foi para Argentina, atravessou o Atlântico rumo ao Brasil com cem dólares no bolso. A “primeira ninfeta de Polanski” já não lembra mais quantas vezes atravessou o Atlântico. Mas da primeira vez não tem como esquecer: “A guerra nos pegou na fronteira com a Checoslováquia, onde meu trabalhava na fábrica de porcelanas Rosenthal. Com o fim da guerra, passamos para a zona de ocupação americana para podermos emigrar. Primeiro pensamos na Tunísia. Depois tentamos o Canadá, mas não fomos aceitos no exame médico pelas manchas no pulmão de minha irmã Larissa (pianista). Eram restos de pneumonia, não tuberculose. Como o Brasil aceitava toda e qualquer manchinha, cá estamos. Viemos num porão de navio (de nome Campana) depois fomos despejados na Ilha das Flores (Rio de Janeiro), tomamos um trem, desabamos em Marechal Mallet e na sequência meu pai ajudou a construir a hidro elétrica Capivari-Cachoeira”.

“Depois de tudo isso, agora sou a primeira ninfeta do Polanski”, resigna-se a paranaense de sete idiomas que abraçou Polanski anos mais tarde (1975), em Nova York, numa manifestação de artistas ucranianos. Foi ele, pelo sobrenome, que a reconheceu. Nessa manifestação estavam John Derek, Debbie Reynolds, Kim Novak, todos ucranianos. “La Boruszenko” só foi reencontrar Polanski de novo três anos depois, em Paris. Depois, quando o já famoso cineasta passou um Carnaval no Rio de Janeiro, por telefone a professora o convidou para tomar uma sopa de beterrabas (bortch) em Curitiba.

Rajmund Liebling agradeceu, ficou tentado a vir, mas a tentação das mulatas foi mais forte.