Doático Santos, 50 anos, é o único funcionário do Estado que a opinião pública tem certeza de que não é um ?fantasma? de repartição. Radical em tempo integral, tem o mais diferenciado cargo do governo. É o capataz do governador Roberto Requião, com orgulho da nomeação: ?Eu me julgo um capataz do Requião na condução do PMDB de Curitiba?.

continua após a publicidade

O capataz é justamente dispensado de bater o ponto. Suas atividades são bem que conhecidas: presidente do diretório do PMDB em Curitiba, assessor da Casa Civil, à disposição da Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná), socialista sem partido e, depois da quase derrota de Requião por apenas 10 mil votos, a fidelidade canina fez dele um ?perdigueiro? no encalço do prefeito Beto Richa: ?Aonde o Beto for, o Doático vai atrás!? – subscreveu o governador no decreto de caça.

Ao ouvir os disparos, o prefeito de Curitiba respondeu com chumbo grosso: ?Não haverá conversa com esta pessoa. Não converso com o cachorro, apenas com o dono do cachorro. De Curitiba cuido eu. Doático só serve para fazer o trabalho sujo?.

Nem sempre. Nas últimas semanas, o capataz está se dedicando a um trabalho que exige unhas tratadas e luvas de seda. Presidente do PMDB de Curitiba, a sucessão do prefeito Beto Richa, ou a sua reeleição, vai passar pelas mãos do capataz.

continua após a publicidade

?Meu candidato a prefeito é o candidato do governador? – alertou o ?faz-tudo? do governador a Rafael Greca, pré-candidatíssimo do PMDB. O outro postulante é o reitor da Universidade Federal do Paraná, Carlos Augusto Moreira Júnior.

Dias atrás, o capataz de Requião teve uma comovente conversa com Rafael Greca, no Bar Getúlio, do Braz Hotel. Doático, apreciador de charutos de oito reais, tomou chope, Greca dispensou o champagne. Bebeu uma velha cachaça mineira com os olhos vazados de ternura. No passado recente eram inimigos de rolar no barro da periferia; no Bar Getúlio até ?pintou um clima?. Trocaram ósculos, o ex-enfant terrible de Jaime Lerner fez juras de arrependimento e só não saíram de mãos dadas porque, ora, o que iriam dizer os maledicentes da Boca Maldita?

continua após a publicidade

O reitor que não sinta ciúmes. O capataz de Requião apenas namora, analisa pretendentes: ?Greca candidato a prefeito terá um discurso próprio. Moreira será o porta-voz de Requião?.

Para bom entendedor, uma longa baforada do charuto de oito reais basta.

***

No início da noite de quinta-feira passada conversamos por cerca de quatro horas, em torno de alguns bolinhos de carne. Vestindo amarelo, como sempre, poucos circunstantes olham indiferentes para o temido capataz de Requião. Com apenas o segundo grau completo, Doático é uma das figuras mais controvertidas da capital. ?Fui satanizado!? – reconhece o ex-contínuo do Bamerindus, ex-vereador de Curitiba, antigo líder de invasões de terra da periferia, fundador da CUT e da primeira torcida organizada no Paraná – ?O que me lava a alma é o Atlético Paranaense. Aos domingos, a missa de minha família (Terezinha e quatro filhos, ainda moram na invasão da Ferrovila) começa no Portão 301 da Arena, o meu altar; a celebração só termina com apito do juiz?.

Doático Santos aprovou os bolinhos de carne do boteco. Nascido em Palmas (PR), a mãe era lavadeira e, nos grandes momentos, quituteira oficial da cidade. Dona Sebastiana cansou de fazer empadinhas, mini-pastéis e bolinhos de carne para criar o guri que viria a ser capataz do atual governador do Paraná.