Dois anos após receber o título de personalidade do ano, ao lado de Alberto Einstein, e semanas antes de ser preso, o gangster Al Capone, então com 32 anos, ao ser entrevistado por Cornelius Vanderbilt Jr, em 1931, deixou esta frase de encomenda para os futuros corruptos e corruptores do Brasil: “O suborno é uma máxima na vida hoje em dia. É a lei onde nenhuma outra lei é obedecida. Ele está corrompendo este país. Dá para contar nos dedos os legisladores honestos de qualquer cidade. Os daqui podem ser contados em uma mão. A virtude, a honra, a verdade e a lei desapareceram de nossa vida. Somos todos uns espertalhões. A gente gosta de fazer coisas erradas e se safar. E se não conseguimos ganhar a vida com uma profissão honesta, vamos ganhar dinheiro de outra maneira”.

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Não se sabe se, ao morrer de sífilis em 1947, Al Capone tenha deixado uma lista de políticos desonestos dos Estados Unidos. Muitos menos que tenha sido beneficiado com a delação premiada, em troca de uma lista semelhante ao rol de políticos brasileiros que aguardam com ansiedade os nomes que estão no caderninho do juiz Sérgio Moro.

Caderninho este que lembra o temido caderninho da Mirlei. Também conhecida com “Baronesa do Sexo”, só depois de sua prisão os poderosos e bacanas começaram se dar conta que algo de podre estava entre as caixas de papeis apreendidos pela polícia. Começou a cheirar muito mal, principalmente, uma misteriosa agenda guardada a sete chaves. Os assustadores “Anais da Baronesa”. Cem, duzentos, trezentos nomes e endereços, quem sabe? Ia além da imaginação quantos valetes a cafetina teria na manga.

O caderninho da Mirlei não foi o primeiro a amedrontar o bairro chique do Batel. Há precedentes, quando outra Caixa de Pandora abalou Curitiba. No início da década de 1960, a polícia desbaratou uma gangue que agenciava garotas para exclusivos bacanais, todas “di menor”. Na gaveta do chefe da quadrilha, foi encontrada nitroglicerina pura. De A a Z, lá estavam quase todos os maiorais dos Três Poderes, com páginas exclusivas para os bacanas das colunas sociais.

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A agenda da cafetinagem foi passada na íntegra para o jornal Última Hora, que, impresso em São Paulo, escancarou nas páginas a nominata completa dos bacanas dos bacanais. Parecia lista de vestibular. Alertados com antecedência de que o caminhão da Última Hora chegaria a Curitiba com a carga de dinamite, na madrugada os bacanas e seus capangas cercaram as bancas e compraram toda a edição, na vã esperança de que não sobrasse um único exemplar para contar a história.

Foi dinheiro jogado fora. Precavidos, os jornalistas da Última Hora de São Paulo, excepcionalmente, não enviaram apenas um caminhão. Enviaram dois, este último chegou bem mais tarde, abarrotado de jornal até a cabine. Para citar o ‘Samba do Crioulo Doido’, de Sérgio Porto, o bode que deu vou te contar! 

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Enquanto o New York Times confere ao escândalo da Petrobras o título de maior caso de corrupção do mundo moderno – golpe jamais imaginado por Al Capone -, senhores nervosos e madames neuróticas aguardam os jornais do dia seguinte para conferir se estão na última lista de chamada da Petrobras. Se hoje ou amanhã os nomes constarem da primeira página dos jornais, é inútil cercar os caminhões de entrega ou comprar todas as edições, na vã esperança de que não sobre um único exemplar para contar a história.

A única alternativa para tapar a sujeira com a peneira é insistir no plebiscito da reforma política e grudar no ovo da serpente o “controle social da imprensa”.