O caboclo e a praia

A história não costuma contar pequenos grandes detalhes, mesmo assim arrisco dizer que o primeiro curitibano a caminhar na praia tinha o nome de Firmiano. Nativo dos pinheirais, Firmiano foi quem acompanhou o naturalista Saint-Hilaire, quando fizeram o trajeto de Pontal de Paranaguá até Caiobá em três carros de boi, como registrou Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853) na sua “Viagem pela Comarca de Curitiba”.

“Não havia no Pontal nem casas, nem vegetação; nada mais existia ali a não ser areia pura”, narrou Saint-Hilaire. “Carregaram a bagagem, e quando partimos o sol já se havia posto faz tempo. É hábito percorrer esta praia à noite, beirando o mar, porque os bois andam muito mais depressa no escuro do que à claridade do dia”.

Com o caboclo Firmiano pela primeira vez espalhando os pés na areia, Saint-Hilaire escrevia sentado na carroça: “Deitei-me, e em breve o marulho das ondas me fez adormecer, mas acordava de vez em quando e via, à luz do luar, que seguíamos por uma praia de areia pura, com as ondas vindo lamber de vez em quando as rodas dos carros”.

Depois de se despedir de Saint-Hilaire em Caiobá (nome derivado do guarani “cairoga”, casa de macacos), Firmiano deve ter retornado a Curitiba extasiado, contando daquele paraíso serra abaixo, mas com uma ponta de tristeza nos olhos.

– Não tenho palavras para contar o que é uma caminhada de dia e noite na praia! Só quem pisa na areia do mar sabe o tamanho daquela felicidade! O que estragou foi o tempo. Depois da primeira noite à luz do luar, choveu três dias e três noites sem parar!

Firminiano foi o primeiro curitibano a passar um feriadão na praia.

Catarina com ressalva

Por iniciativa do vereador João Luiz Cordeiro (João do Suco), na noite de hoje recebo no Plenário do Anexo II da Câmara Municipal o título de Cidadão Honorário de Curitiba. Não mereço tanto. Em troca de tanta generosidade, além do abraço vou receber os amigos e leitores com a promessa de nunca mais trair o nosso sotaque leite quente. E, doravante, até podem me chamar de “catarina”, mas com a devida ressalva.