O bigode de Paulo Leminski

No tempo em que o bigode arrastava Paulo Leminski de bar em bar no Setor Histórico de Curitiba, com ocasionais incursões pelo lado avesso da cidade – nos inferninhos da Rua Cruz Machado, por exemplo -, seria considerada uma intervenção militar a batida policial que aconteceu em pleno feriadão na Rua São Francisco, quando centenas de pessoas foram abordadas e revistadas por guardas municipais e policiais militares.

Conforme a reportagem, a polícia trancou a rua e ordenou o fechamento dos bares. Com armas na mão, os policiais entraram nos estabelecimentos pedindo que os clientes, indistintamente, se retirassem. Três pessoas foram detidas e não houve registro de brigas ou excessos antes, durante e depois da operação.

O bigode de Paulo Leminski podia ter sido um dos suspeitos de sempre da Rua São Francisco. Se não fosse o bigode do poeta, poderia ter sido a generosa barba do escritor e dramaturgo Manoel Carlos Karam, que além da aparência suspeita também morava no número 50 da mesma rua. Suspeitíssimo seria ainda o bigode do jornalista Fábio Campana (de codinome Zapata), que no comando de uma célula de barbados fazia planos para derrubar a ditadura militar num canto escuro do Beco do Mijo, fundos da Catedral Metropolitana. 

Seguramente, o bigode de Paulo Leminski nunca passou pelo vexame de ser abordado, revistado e humilhado pela polícia em suas noites de boemia. Mesmo que o bigode estivesse arrastando para o Bar do Alemão, além de Gil e Caetano, outros artistas marginais que facilmente poderiam ser confundidos com cabeludos traficantes da periferia.

Por certo, a Curitiba do século passado não era isso tudo. Nem a Rua São Francisco era isso tudo que é hoje. Mas o bigode do Paulo Leminski sabia das coisas. Sabia que na noite todos os gatos são pardos e que a cabeça não serve apenas para bater continência. Serve para prevenir, pensar e agir com o Serviço de Inteligência. Ou a pindaíba do atual governo acabou até com o Serviço Reservado (P2) da Polícia Militar?

Na revista aos suspeitos de sempre da Rua São Francisco, os mentores da Segurança Pública demonstram que não faltam machos para cumprir ordens. Só faltam bigodes.  

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