O Barão da Barão

Numa consagradora homenagem, Jaime Lerner recebeu ontem à noite, no Clube Curitibano, a Comenda Barão do Serro Azul da Associação Comercial do Paraná. Nascido na Rua Barão do Rio Branco, onde seu pai tinha uma loja de gravatas na frente da casa, agora o arquiteto que redesenhou Curitiba também pode ser chamado de Barão da Barão.

Dizem que nem os políticos, nem os atores sabem se aposentar na hora certa. Como político, o ex-governador Jaime Lerner se declarou aposentado. Como ator, iniciou carreira em dezembro de 2007, quando se apresentou no Teatro do Paiol para comemorar os seus 70 anos fazendo arte para os amigos. Foi a noite do criador e da criatura. Inaugurado pelo poeta Vinícius de Moraes, décadas depois o Paiol recebeu o seu criador como a estrela de um show que muitos consideraram, pelo inusitado, como um dos melhores espetáculos já apresentado naquele antigo depósito de pólvora.

“Uma estrela que se preza não divide o spot-light”, é uma antiga frase de Jaime Lerner. Naquela noite a estrela sentou no banquinho e, com a mesma impostação de Vinícius de Moraes, contou porque a vida o ensinou a ser assim tão exibido.

Aos treze anos, Jaime ganhou sua primeira festa na data de seu Bar Mitzvah. Todos os amigos eram aguardados na casa da família com uma banheira repleta de bebidas. “Às 15h, na Rua Barão do Rio Branco”, dizia o convite. Eram 16h e não apareceu ninguém. Cinco da tarde, sem nenhum amigo ainda presente, ele ia e vinha pelo corredor: olho na vidraça, olho na banheira entupida de garrafas. Olho na vidraça, olho na banheira.

Eram dezoito horas, quando o anfitrião viu que os rótulos das bebidas já se desprendiam da garrafa, boiavam na água fresca da banheira. Os rótulos derretidos derreteram a esperança: não viria nenhum dos amigos. Não vieram, e os rótulos restaram boiando na banheira.

“Foi o dia mais triste da minha vida”, confessou o Barão da Barão, como se ainda estivesse olhando pela vidraça da janela. “E, assim, decidi me tornar um exibido!”.