Até o ano passado, se existiam dois profissionais sacrificados no verão brasileiro eram os vendedores ambulantes e os jornalistas políticos. O vendedor de cerveja em lata é o coitado que percorre o calvário de areia carregando aquela cruz de isopor feito um Cristo de sandálias havaianas. Quanto aos editores políticos, em janeiro e fevereiro, coitados… Durante o verão, repórter político devia ganhar adicional de insalubridade. Então vejamos um dia típico da editoria de política:
– Qual é a pauta para hoje, chefia?
– A mesma de ontem: encher linguiça!
– Com trema ou sem trema?
– Isso vale para qualquer profissional de respeito: “Jamais trema em cima de uma linguiça!”. Pega o telefone e entrevista os corruptos de sempre!
Um cafezinho e um cigarro depois (na área infecta do jornal), o repórter consegue localizar um importante líder partidário.
– O governador Beto Richa foi recebido ontem pela presidente Dilma, junto com a Gleisi Hoffmann. O senhor acredita em bruxas e no Papai Noel?
– Um momentinho, caro repórter! (No fundo o barulho do mar e uma voz feminina perguntando pelo bronzeador) Continuando… não tenho elementos para julgar a importância política desta cordial aproximação entre petistas e tucanos. Garçom, mais uma caipirinha! De vodka, pouco açúcar e bastante gelo!
Se os políticos têm uma vida sacrificada quando consultam suas bases à beira-mar, em janeiro e fevereiro a vida de um jornalista político era mais sacrificada ainda. O leitor, que exige diariamente notícias frescas, não sabe o calor dos coitados para fechar páginas diárias com abobrinhas políticas.
Graças ao juiz Sérgio Moro, o próximo ano não será igual àquele que passou. Será muito pior. Se 2014 foi o ano que terminou no dia seguinte à vitória de Dilma Rousseff, 2015 será o ano que não vai acabar. Só vai acabar quando terminar a Lava Jato. Por conseguinte, em janeiro e fevereiro não irão faltar notícias da Polícia Federal, rumores em Brasília e muitas horas extras para os repórteres políticos.
Quanto aos vendedores de cerveja em lata, pelo visto teremos um verão em crise, frio e chuvoso. Uma pena!