Números e numerários

No final de 2013, quando o Estado do Paraná já se exibia com a calça de veludo e a bunda de fora, publiquei aqui nesta página 2 que, tendo um agourento 13 na milhar, o ano havia surpreendido com alguns blefes de primeira grandeza. Começando por Eike Batista, o queridinho do governo cuja fortuna despencou de US$ 34,5 bilhões para algo parecido com pacote de ações da Petrobrás.

Depois do midas brasileiro – tudo que tocava virava ouro de tolo -, outro fracasso teve o toque de ingenuidade de Dilma Rousseff, ao se socorrer de um mirabolante plebiscito por reformas políticas para desviar as atenções das manifestações de rua. Foi um dos primeiros sintomas de que havia algum fio desencapado na fiação da cachola da presidente.

 
Na lista de fiasco e fracassos do Paraná, o maior fiasco de 2013 entrou para a história no capítulo dos grandes blefes engendrados nos altos escalões do Estado: o juiz Clayton Camargo e o ex-deputado Fábio Camargo, num vexame de pai para filho, deram um respeitável blefe no governador Beto Richa, ao prometer e não entregar uma mercadoria tratada.

E para fechar o ano em petição de miséria, não havia como deixar de creditar ao ex-secretário da Fazenda, Luiz Carlos Hauly, um dos mais retumbantes desastres financeiros do Paraná. Escrevi então, no dia 15 de dezembro passado: “O vexame foi tão grande que o ex-prefeito de Cambé deixou Beto Richa sem dinheiro no cofre nem para mandar um panetone para o funcionalismo estadual”.

 Companheiro pé vermelho do PMDB velho de guerra, o fracasso de Hauly fez com que o filho do Zé Richa virasse o ano se lamuriando pelos cantos:
– Ah! Se eu escutasse o que papai dizia!

Dias depois da publicação, recebi em minha casa um telefonema do Luiz Carlos Hauly. Um tanto exasperado, mas sem perder a elegância, o ex-secretário da Fazenda ficou quase meia hora se explicando ao telefone, prestando contas a este cronista.
Em suma, Hauly repetiu a lição de casa: noves fora a falta de gasolina nas viaturas da Polícia Militar, os cismas com o governo federal e a herança maldita velha de guerra, saiu com o dever cumprido. Só não disse que o melhor ainda estaria por vir.

Passados três meses da posse no segundo mandato, com a sensação de que o primeiro governo foi uma bela miragem, 76% dos paranaenses desaprovam o atual governo. A popularidade do governador Beto Richa despencou, desceu a ladeira de camburão, conforme levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, encomendado pela Gazeta do Povo – o que levou o colunista político Celso Nascimento a perguntar: “Você votaria em Beto Richa outra vez?”.  

Como se o caríssimo cenário tivesse despencado em cena e o público, assim de repente, enxergasse a mixórdia que tomou conta dos bastidores, o espetáculo tão prometido foi reprovado por 3 em cada 4 paranaenses. E o quinto não é contra nem a favor, muito pelo contrário, só acha que o governador, como político, precisa usar óculos: é atento aos numerários, mas não enxerga os números da Secretaria da Fazenda.