Nuas, corajosas, belas e formosas

Andar nua pelas ruas é a nova moda entre as mulheres de Porto Alegre. Nos últimos dias, dois casos de nudez foram registrados no intervalo de uma semana e uma terceira mulher foi flagrada correndo completamente nua, domingo passado, no centro da capital gaúcha. Em Curitiba ninguém precisa torcer para essa febre gaúcha contaminar as mocinhas da cidade. Imitar a Lady Godiva é uma performance bem conhecida entre as curitibanas.

Na Inglaterra de 1403, Lady Godiva morria de pena do povo que sofria com os altos impostos do marido, o conde Leofric. De tanto a bela esposa interceder pelos súditos, o marido concedeu a benesse, com uma condição: que Godiva desfilasse nua pelas ruas do condado, montada num cavalo. Ela aceitou a proposta, contanto que o povo fechasse as portas e janelas de suas casas. Diz a lenda que o único súdito que ousou olhar ficou cego.

Foram três as Lady Godiva do Paraná: a do jet-ski, da bicicleta e da motocicleta. O primeiro caso foi registrado pela Capitania dos Portos de Paranaguá. A Godiva da Ilha do Mel normalmente era vista em dias incertos, mais em horário e roteiro precisos, sempre no final da tarde. Atravessava o Canal da Galheta apenas vestida pelo lusco-fusco e sumia no pôr do sol. Com suas formas ondeadas, seios empinados e no mesmo balanço do mar, a loura de púbis dourado embicava em direção de Paranaguá e fazia uma série de círculos perfeitos em volta dos navios ancorados no Canal da Galheta, acenando para os marinheiros que gritavam hurras à sua passagem: “The Paranaguá’s naked blondie”, assim os gringos tratavam a nossa Lady Godiva, muito lembrada nas noites de paixão e fúria nos bordeis do Mosquitinho, a zona de prostituição do litoral.

As Ladies Godiva das bicicletas foram as mocinhas que pedalaram nuas pelas ruas centrais de Curitiba, numa noite de 15ºC. Se a história se repete como farsa ou tragédia, nossas formosas ciclistas se espelharam em Lady Godiva para reescrever com honestidade uma sensual aventura em defesa da liberdade e da justiça. Liberdade antes de tudo, pois as nossas Ladies Godiva fizeram da própria nudez uma representação da singeleza e simplicidade da bicicleta.

“Parecia um presente de Deus!” – contou um motorista de táxi. “Eu estava na Avenida Batel , quando cruzei com uma moça nua, montada numa moto. Dá pra acreditar?”.

No dia seguinte a este relato, estávamos jogando conversa fora no boteco, quando eis que adentra nossa velha conhecida. Bonita, elegante e bem falante, o ambiente sempre se transforma com a presença daquela que é, desde menina, uma das mulheres mais inteligentes e controvertidas de Curitiba: tem legião de desafetos e batalhão de admiradores.

– Chegou a Lady Godiva do Batel! – murmurou o companheiro de balcão.

– Como é que é?

– Não sabia? Nossa amiga realizou um antigo desejo. Prometeu desfilar nua pela Avenida Batel montada numa motocicleta. Ela saiu do bar frequentado pelos motoqueiros e disparou pela Rua Carlos de Carvalho até a Pracinha do Batel. Depois de percorrer a Avenida Batel, pela Vicente Machado voltou ao ponto de partida. Prometeu e cumpriu!

Não era lenda urbana e o motorista de táxi, mesmo correndo o risco de ficar cego, tinha toda razão: o corpo da Lady Godiva do Batel é um presente de Deus. E quem adivinhar o nome da donzela ganha um chocolate Godiva.