Novelas de ontem e de hoje

A novela de novela (ou seria uma minissérie) sobre a contratação do técnico Caio Júnior pelo Coritiba fez lembrar uma antológica história do jornalista Albenir Amatuzzi, insubstituível editor desta Tribuna do Paraná até o final do século passado. Insubstituível porque aquele jurássico jornalista esportivo nunca se adaptaria a essa assepsia tecnológica das redações dos jornais.

Solteirão e com uma indisfarçável admiração por jovens atletas, Albenir Amatuzzi tinha informantes privilegiados em todos os clubes da capital. Tinha conhecimento, inclusive, do que acontecia nos vestiários. Principalmente se algum distraído deixasse cair o sabonete no chuveiro.

Com o Clube Atlético Paranaense caindo pelas tabelas, Amatuzzi chegou à redação da Tribuna com um furo: “O Atlético acaba de contratar o técnico Valdemar Carabina! Deixa a manchete da capa comigo!”.

Com informações exclusivas, do valor do contrato até o horário que Carabina chegaria de São Paulo com avião da Varig, a manchete do Amatuzzi fez a torcida atleticana esgotar a Tribuna nas bancas:

– Valdemar Carabina chega hoje!

Os informantes do Amatuzzi eram de extrema confiança, pena que o Valdemar Carabina não veio. “Não veio hoje – se justificaram as fontes -, mas chega amanhã!”.

O calejado jornalista não era de se abalar. Jornal é assim mesmo, nada como um dia depois do outro e uma edição depois da outra. Albenir voltou para a sua velha Olivetti e mandou ver:

– Valdemar Carabina chega amanhã!

Carabina não chegou amanhã e nem depois. Só o que chegou às bancas foi a Tribuna do Paraná, com três manchetes seguidas. Melhor dizendo, foi uma novela:

Quarta-feira: “Valdemar Carabina chega hoje!”.

Quinta-feira: “Valdemar Carabina chega amanhã!”.

Sexta-feira: “Valdemar carabina chega segunda-feira”.

No fim de semana o campeonato paranaense não parou em função da novela, o Atlético entrou em campo com técnico provisório, mas na segunda-feira a manchete do Albenir Amatuzzi ganhou oito colunas em letras garrafais, no alto da primeira página, na cor vermelha que só mesmo os grandes acontecimentos merecem:

– POR DEUS, CARABINA CHEGOU!

Albenir Amatuzzi estaria bem feliz com a mudança desta Tribuna, da Vista Alegre das Mercês para a Praça Carlos Gomes. Não precisaria mais tomar um táxi para ir e voltar. Faria a pé o caminho de casa, na Rua Cruz Machado. Se ainda estivesse na redação, seria do Amatuzzi a manchete para o início das obras do metrô, essa novela curitibana:

– POR DEUS, PREFEITO DEU O PONTAPÉ INICIAL DO METRÔ!