Notório saber

Depois de liberar a importação de médicos genéricos, a presidente Dilma está estudando a possibilidade de facilitar a vinda de engenheiros para trabalhar no Brasil. A exemplo do programa Mais Médicos, a proposta do Mais Engenheiros seria solucionar os gargalos que atravancam o andamento de obras e o repasse de verba federal para os municípios. Como resultado do histórico abandono da educação, estão faltando nas prefeituras especialistas que saibam elaborar os projetos básico e executivo, fundamentais para que a cidade possa receber recursos da União. Inclusive de organismos internacionais.

Curitiba, nesse aspecto, sempre tirou vantagem da capacidade de seus engenheiros e urbanistas em elaborar projetos. Principalmente para organismos internacionais. Desde os tempos de Jaime Lerner, os projetos para Curitiba chegavam a Brasília com os números falando a mesma língua e sem erros de concordância. Semanas atrás, por exemplo, o presidente do Ippuc, Sérgio Pires, levou os projetos para o metrô em três malas de viagem. Foi um espanto, pois a normalidade brasileira não passa de algumas folhas de papel almaço.

Os cérebros do governo que pretendem mandar os nossos médicos nativos plantar batatas só estão se esquecendo de alguns fundamentos para fazer com que os engenheiros estrangeiros se adaptem ao sistema brasileiro e, assim, solucionar gargalos que atravancam obras e o repasse de verba federal para os municípios: no Brasil, nada funciona sem o famoso jeitinho. Trazer engenheiros para tocar obrar no interior é uma coisa, outra coisa é explicar para os gringos que, além de um peso e duas medidas, em todo o território nacional temos vários sistemas métricos para a execução de obras públicas. Principalmente nos casos de aditivos contratuais.  

Antes de trazer engenheiros para trabalhar no serviço público, é explicar que o jeitinho brasileiro pode ser tanto federal, quanto estadual ou municipal. No jeitinho federal, dois mais dois sempre somam cinco e, em se tratando de imposto, é oito ou oitenta. O jeitinho estadual tem a mesma característica, mas tudo é debitado à conjuntura federal. Pode faltar dinheiro para investimentos, mas não podem faltar desculpas para tanta incompetência. O jeitinho municipal é mais simplório. Normalmente, até padeiro sabe que o prefeito vai comer o pão que o diabo amassou pelas mãos das empreiteiras municipais, estaduais ou federais.

Como exigência fundamental para trazer engenheiros do exterior, seria trazer no currículo experiência de trabalho em empresas como a Siemens, Alastom ou Bombardier, com notório saber nas técnicas de corrupção no exterior.